quarta-feira, 13 de março de 2013

França condecora Dulce Maria Cardoso

Escritora transmontana
 
A edição dos livros «Campo de Sangue» (2002), «Os Meus Sentimentos» (2005) e «Até Nós» (2008), já traduzidos em França e noutras línguas, valeu à escritora Dulce Maria Cardoso (n. 1964) a condecoração francesa de Cavaleira da Ordem das Artes e Letras.

O Ministério da Cultura francês justifica a distinção - a entregar em Lisboa, em data ainda a designar - pelo papel que a obra da escritora tem na “irradiação da cultura em França e no mundo”.

Criada em 1957, a condecoração da Ordem das Artes e das Letras corresponde a uma das mais altas distinções honoríficas da República Francesa e homenageia personalidades que se destacaram pela sua contribuição na difusão da cultura em França.

Entre os portugueses que já receberam esta condecoração estão os escritores Lídia Jorge e António Lobo Antunes, a fadista Mariza, o comendador Joe Berardo, o ensaísta Eduardo Lourenço, o editor Manuel Alberto Valente, o coreógrafo e bailarino Rui Horta, a atriz Leonor Silveira, o jornalista Carlos Pinto Coelho e o encenador Joaquim Benite.

Dulce Maria Cardoso, que em 2009 recebeu o Prémio Europeu de Literatura pelo romance “Os Meus Sentimentos”, é autora do livro de contos “Até Nós” e do romance “O Chão dos Pardais” publicado em Portugal em 2009. Em 2011 publicou “O retorno”, sobre a experiência dos retornados, da descolonização de Angola (de onde saiu na infância, via Ponte Aérea), do fim do Império e das suas consequências no Portugal contemporâneo. O romance foi considerado pela crítica como o melhor do ano e venceu ainda o prémio especial da crítica nos Prémios LER/Booktailors 2011.

A escritora nasceu em Trás-os-Montes em 1964, passou a infância em Angola e vive agora em Lisboa. Formou-se na Faculdade de Direito de Lisboa e o seu primeiro romance «Campo de Sangue» recebeu o Grande Prémio Acontece de Romance.

Os Provérbios e a Cultura Popular

Março marçagão




Este fim de semana, com os temporais de tornados e trovões a eclodir por todo o lado, é bem a prova acabada de mais um março marçagão, invariavelmente traiçoeiro: “de manhã cara de cão, ao meio dia cara de rainha, à tarde cara de fuinha e à noite corta como a foicinha”. Não é em vão que o povo do Douro vai dizendo que o “março é merceeiro e tão falso com´ó fevereiro”.
Do fevereiro, a gente já sabia que é velhaco. Afinal, “matou a mãe ao soalheiro”. Em Sabrosa, conta-se que a pobre velhinha, mãe do dito, ao olhar pela janela e, vendo o sol a raiar, perguntou ao filho:
– Olha lá, ó fevereiro, hoje não mandas chuva?
– Hoje não – diz ele. – Hoje mando uma ressa de sol.
Ela então pegou na roca e no fuso e foi para o soalheiro fiar. Nisto, o safado mandou vir uma forte saraivada, e a pobre, como era velhinha, não teve tempo de fugir e morreu ali mesmo. Assim se conta em Sabrosa. Mas em Vinhais conta-se mais. Ouvi a um idoso de Espinhoso que o fevereiro fez vir uma ressa de sol e mandou a mãe ao monte nua. A seguir, mandou uma saraivada e matou-a. Por isso, diz o povo que “o fevereiro é velhaco e traiçoeiro” e que “fevereiro quente traz o diabo no ventre”. Também me contou o mesmo idoso de Espinhoso que, uma velha, já farta do fevereiro, ao chegar a 28, disse-lhe:
– Vai-te embora, maldito fevereiro, que só me deixaste um cordeiro!
E ele:
– Andá lá, anda, que ainda aí vem o meu irmão março que não te deixará nem cordeiro nem farrapo!
Como de facto. O março aí está a fazer das suas. E daí que o povo diga: “O março leva a ovelha e o farrapo e o pastor se é fraco; e o cão escapará ou não”. Mas saiba-se também que, antes de partir, ainda deixa ficar as suas ameaças. Contou-nos o nosso bom amigo e narrador de Espinhoso que, ao aproximar-se o fim do março, uma velha foi-se a ele e disse-lhe:
– Vai-te março marçagão, que ainda me deixas a minha vaca e o meu bezerrinho são!
E ele respondeu:
– Cala-te, velha, que com os três dias que ainda tenho e mais três que me empresta o meu irmão abril, ainda te faço andar com o bezerrinho ao quadril!
A gente ouve o povo dizer estas coisas, e só pode mesmo é vergar-se perante tanta sabedoria.

Alexandre Parafita

Bibliografia:
Gailivro, 2007