Escritora
transmontana
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A edição dos livros «Campo de Sangue» (2002), «Os Meus
Sentimentos» (2005) e «Até Nós» (2008), já traduzidos em França e noutras
línguas, valeu à escritora Dulce Maria Cardoso (n. 1964) a condecoração francesa
de Cavaleira da Ordem das Artes e Letras.
O Ministério da Cultura francês justifica a distinção - a entregar em Lisboa, em data ainda a designar - pelo papel que a obra da escritora tem na “irradiação da cultura em França e no mundo”. Criada em 1957, a condecoração da Ordem das Artes e das Letras corresponde a uma das mais altas distinções honoríficas da República Francesa e homenageia personalidades que se destacaram pela sua contribuição na difusão da cultura em França. Entre os portugueses que já receberam esta condecoração estão os escritores Lídia Jorge e António Lobo Antunes, a fadista Mariza, o comendador Joe Berardo, o ensaísta Eduardo Lourenço, o editor Manuel Alberto Valente, o coreógrafo e bailarino Rui Horta, a atriz Leonor Silveira, o jornalista Carlos Pinto Coelho e o encenador Joaquim Benite. Dulce Maria Cardoso, que em 2009 recebeu o Prémio Europeu de Literatura pelo romance “Os Meus Sentimentos”, é autora do livro de contos “Até Nós” e do romance “O Chão dos Pardais” publicado em Portugal em 2009. Em 2011 publicou “O retorno”, sobre a experiência dos retornados, da descolonização de Angola (de onde saiu na infância, via Ponte Aérea), do fim do Império e das suas consequências no Portugal contemporâneo. O romance foi considerado pela crítica como o melhor do ano e venceu ainda o prémio especial da crítica nos Prémios LER/Booktailors 2011. A escritora nasceu em Trás-os-Montes em 1964, passou a infância em Angola e vive agora em Lisboa. Formou-se na Faculdade de Direito de Lisboa e o seu primeiro romance «Campo de Sangue» recebeu o Grande Prémio Acontece de Romance. |
quarta-feira, 13 de março de 2013
França condecora Dulce Maria Cardoso
Os Provérbios e a Cultura Popular
Março marçagão
Este
fim de semana, com os temporais de tornados e trovões a eclodir por todo o lado,
é bem a prova acabada de mais um março marçagão, invariavelmente traiçoeiro: “de
manhã cara de cão, ao meio dia cara de rainha, à tarde cara de fuinha e à noite
corta como a foicinha”. Não é em vão que o povo do Douro vai dizendo que o
“março é merceeiro e tão falso com´ó fevereiro”.
Do fevereiro,
a gente já sabia que é velhaco. Afinal, “matou a mãe ao soalheiro”. Em Sabrosa,
conta-se que a pobre velhinha, mãe do dito, ao olhar pela janela e, vendo o sol
a raiar, perguntou ao filho:
–
Olha lá, ó fevereiro, hoje não mandas chuva?
–
Hoje não – diz ele. – Hoje mando uma ressa de sol.
Ela
então pegou na roca e no fuso e foi para o soalheiro fiar. Nisto, o safado
mandou vir uma forte saraivada, e a pobre, como era velhinha, não teve tempo de
fugir e morreu ali mesmo. Assim se conta em Sabrosa. Mas em Vinhais conta-se
mais. Ouvi a um idoso de Espinhoso que o fevereiro fez vir uma ressa de sol e
mandou a mãe ao monte nua. A seguir, mandou uma saraivada e matou-a. Por isso,
diz o povo que “o fevereiro é velhaco e traiçoeiro” e que “fevereiro quente traz
o diabo no ventre”. Também me contou o mesmo idoso de Espinhoso que, uma velha,
já farta do fevereiro, ao chegar a 28, disse-lhe:
–
Vai-te embora, maldito fevereiro, que só me deixaste um cordeiro!
E
ele:
–
Andá lá, anda, que ainda aí vem o meu irmão março que não te deixará nem
cordeiro nem farrapo!
Como
de facto. O março aí está a fazer das suas. E daí que o povo diga: “O março leva
a ovelha e o farrapo e o pastor se é fraco; e o cão escapará ou não”. Mas
saiba-se também que, antes de partir, ainda deixa ficar as suas ameaças.
Contou-nos o nosso bom amigo e narrador de Espinhoso que, ao aproximar-se o fim
do março, uma velha foi-se a ele e disse-lhe:
–
Vai-te março marçagão, que ainda me deixas a minha vaca e o meu bezerrinho
são!
E
ele respondeu:
–
Cala-te, velha, que com os três dias que ainda tenho e mais três que me empresta
o meu irmão abril, ainda te faço andar com o bezerrinho ao
quadril!
A
gente ouve o povo dizer estas coisas, e só pode mesmo é vergar-se perante tanta
sabedoria.
Alexandre
Parafita
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