domingo, 3 de maio de 2015

                                        

 Prémio Literário Diário de Notícias 1991, atribuído pelo júri constituído por Agustina Bessa-Luís, Diogo Peres Aurélio, Lídia Jorge, Vergílio Ferreira e Viale Moutinho

...André Lobo nasceu no coração de Barroso, aurícula de Gostofrio, sangue de lavradores. Teve uma infância de mimos, entre o amor da mãe Isabel e a companhia da irmã Balbina, mais velha do que ele oito anos.
Não chegou a conhecer o pai, a quem a morte colheu ainda verde lá para as Américas, onde o brilho traiçoeiro do dólar o atraíra. Do tempo dele, foi o único rapaz de Gostofrio a frequentar a escola régia da Gralheira até à quarta classe. A professora, uma boneca citadina a quem o padre Elias fez um filho e a vida negra, lamentava que ele não seguisse estudos, onde prometia ir longe. O tio Lisboa, que tinha a paixão da guitarra e do fado e dirigia, na aldeia, uma pequena orquestra de cordas, quis fazer dele um fadista de fama e proveito; e o tio Carneiro que, aos domingos, ensinava os rapazes a jogar pau, um varredor de feiras e romarias. Mais terra a terra, a mãe Isabel entregou-lhe o governo da casa, que mantinha sete vacas e malhava quatrocentos alqueires de pão. Por amor das vacas e do pão, adicionado à galharda figura do rapaz, todas as raparigas da freguesia sonhavam com ele para marido.


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