![Foto: “A Última Criada de Salazar – A vida doméstica e os dias do fim” de Miguel Carvalho
Em 1969, prestes a completar 14 anos, Rosália Araújo foi contratada para servir António de Oliveira Salazar. Durante anos, conheceu a vida doméstica do palacete de São Bento, liderada pela severa dona Maria, e o lado mais privado do Presidente do Conselho, com os seus hábitos, gostos, desgostos e segredos. No momento da sua morte, em 1970 foi a única empregada presente no quarto do ditador.
A Última Criada de Salazar é o relato minucioso da decadência e dos dias do fim do homem que alcançou o poder em 1932 e só o perdeu três décadas mais tarde.
Após a morte do ditador, Rosália teve convites para ficar em Lisboa, mas regressou a Favaios. Casou, criou família, enviuvou. Padeira fora, padeira continuou. “Precisávamos de outro 25 de Abril”, diz, agora, a antiga criada de Salazar.
«É um livro especial. Extraordinariamente bem escrito, com uma coerência narrativa e um ritmo absolutamente perfeitos, é o exemplo acabado do livro que se lê de um fôlego. Foi de facto o meu caso. Abri-o e só o pousei depois de terminar. O tema e as personagens ajudam, claro. Os últimos anos do regime de Salazar, observados a partir de um microcosmos que foi a sua residência oficial (S. Bento e o Forte de Sto. António do Estoril) e pelos olhos de quem o servia. A D. Rosália, um verdadeiro tesouro de memórias intactas, guia-nos pelo universo particular dos últimos anos da ditadura, com uma visão apolítica da casa onde residia o poder que comandava o, à altura, Império Português. De entre o flagrante contraste entre a dimensão do império até à pequenez do mundo privado do ditador, acompanhamos uma história que em qualquer contexto não deixa de ser uma portentosa tragédia clássica. A queda (e aqui esqueço o episódio da cadeira) de um mito. Toda a descrição dos últimos tempos de vida de Salazar, mas sobretudo a gigantesca encenação que é feita para manter as aparências, chega a parecer irreal. E de certa forma é. É uma realidade que não existe, em absoluto contraponto com um país pobre, pequeno e abandonado à sua sorte, onde apenas as elites contam. É neste equilíbrio delicado e que nunca abandona que o Miguel consegue dar uma imagem de um pais e de uma ditadura em queda, sem nunca cair no que seria fácil, o tomar partido. É um retrato de um homem incontornável no Séc. XX português, feito a partir de dentro. Um quadro pintado em proximidade.» [Ricardo, blogue Estante Acidental]
Miguel Carvalho nasceu no Porto em 1970 e é repórter da revista Visão desde dezembro de 1999. Em 1989, concluiu o Curso de Radiojornalismo do Centro de Formação de Jornalistas do Porto. Trabalhou no Diário de Notícias e no semanário O Independente. Recebeu o Prémio Orlando Gonçalves (Jornalismo), em 2008, e o Grande Prémio Gazeta, do Clube dos Jornalistas, em 2009. Algumas das suas reportagens têm merecido referência em títulos como The New York Times, El País, Daily Telegraph, Veja ou O Globo.
Disponível na Traga-Mundos – livros e vinhos, coisas e loisas do Douro em Vila Real... | Traga-Mundos – lhibros i binos, cousas i lhoisas de l Douro an Bila Rial...](https://fbcdn-sphotos-e-a.akamaihd.net/hphotos-ak-frc3/1395975_661531123878749_833316068_n.jpg)
Em 1969, prestes a completar 14 anos, Rosália
Araújo foi contratada para servir António de Oliveira Salazar. Durante
anos, conheceu a vida doméstica do palacete de São Bento, liderada pela
severa dona Maria, e o lado mais privado do Presidente do Conselho, com
os seus hábitos, gostos, desgostos e segredos. No momento da sua morte,
em 1970 foi a única empregada presente no quarto do ditador.
A Última Criada de Salazar é o relato minucioso da decadência e dos
dias do fim do homem que alcançou o poder em 1932 e só o perdeu três
décadas mais tarde.
Após a morte do ditador, Rosália teve
convites para ficar em Lisboa, mas regressou a Favaios. Casou, criou
família, enviuvou. Padeira fora, padeira continuou. “Precisávamos de
outro 25 de Abril”, diz, agora, a antiga criada de Salazar.
«É
um livro especial. Extraordinariamente bem escrito, com uma coerência
narrativa e um ritmo absolutamente perfeitos, é o exemplo acabado do
livro que se lê de um fôlego. Foi de facto o meu caso. Abri-o e só o
pousei depois de terminar. O tema e as personagens ajudam, claro. Os
últimos anos do regime de Salazar, observados a partir de um microcosmos
que foi a sua residência oficial (S. Bento e o Forte de Sto. António do
Estoril) e pelos olhos de quem o servia. A D. Rosália, um verdadeiro
tesouro de memórias intactas, guia-nos pelo universo particular dos
últimos anos da ditadura, com uma visão apolítica da casa onde residia o
poder que comandava o, à altura, Império Português. De entre o
flagrante contraste entre a dimensão do império até à pequenez do mundo
privado do ditador, acompanhamos uma história que em qualquer contexto
não deixa de ser uma portentosa tragédia clássica. A queda (e aqui
esqueço o episódio da cadeira) de um mito. Toda a descrição dos últimos
tempos de vida de Salazar, mas sobretudo a gigantesca encenação que é
feita para manter as aparências, chega a parecer irreal. E de certa
forma é. É uma realidade que não existe, em absoluto contraponto com um
país pobre, pequeno e abandonado à sua sorte, onde apenas as elites
contam. É neste equilíbrio delicado e que nunca abandona que o Miguel
consegue dar uma imagem de um pais e de uma ditadura em queda, sem nunca
cair no que seria fácil, o tomar partido. É um retrato de um homem
incontornável no Séc. XX português, feito a partir de dentro. Um quadro
pintado em proximidade.» [Ricardo, blogue Estante Acidental]
Edição/reimpressão: 2013