segunda-feira, 25 de abril de 2016

UM LIVRO EXCECIONAL DE UM ANTIGO COLEGA DE ESCOLA

                     Na Andadura do Tempo

Antigamente o tempo não se escoava, antes passava de mão em mão, como a Sagrada Família, de pai para filho e deste para o neto, sempre na mesma ampulheta de trabalhos na terra, de geadas para o lavrador se pôr a pau, de torreiras em Agosto a argamassar os regos secos, de romarias a horas como as badaladas das trindades. De modos que o tempo dos antigos era o mesmo dos novos e dos que ainda estavam para vir.
Mas a roda das estações electrificou-se e desatou a girar sem pausas nem esperas pelos mais atrasados. Nas águas dos ribeiros e no lavradio caíram químicos e plásticos, o grão foi enferrujando nas arcas e as giestas e estevas são mais que as mães por entre as fragas e os torrões. Aguilhoados pelo colorido falso do ecrã, os novos foram à vida para outras paragens e até os pinhos desertam lentamente do interior, enegrecidos, no bojo das camionetas, iludidos pelos fogos artificiais arribados na liberdade de Abril. Restam poucos, calvos e brancos.

“(…) há ainda grandes escritores da natureza, conhecedores das gentes e das fainas agrícolas, como Bento da Cruz, Francisco Duarte Mangas ou mesmo, especialmente em Nenhum Olhar, José Luís Peixoto. Vítor da Rocha enfileira, com talento, nessa pequena hoste. (…) Pessoalmente, fiquei preso à leitura do conto admirável que abre este livro: O Anjo e a Puta, uma história bem crua e no entanto puríssima sobre a vida dadivosa de uma prostituta de aldeia. (…)” 
Urbano Tavares Rodrigues, recensão para Fundação Calouste Gulbenkian
  
“(…) O mais inovador, porém, dos textos deste livro (e atrever-me-ia mesmo a compará-lo, em vantagem, com tudo o que tenho ultimamente lido neste enquadramento temático) intitula-se “Toninho, o Último Pinho”. É uma verdadeira obra de arte (…)”

Luísa Mellide Franco, jornal Expresso