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O mazagran, é sabido, é uma bebida. Neste caso, explica o autor, é também um convite. Rentes de Carvalho convida os leitores para se sentarem com ele à mesa para uma amena cavaqueira.
Sirva-se então o mazagran: «um copo grande cheio até mais de um terço com café forte, um volume igual de água gasosa, muito açuca, uma rodela de limão.» E acrescenta Rentes de Carvalho, dado que esta é uma bebida muito popular no Magrebe: «Quando o Profeta abranda a sua vigilância junta-se-lhe um cálice de conhaque. Bebe-se quente no inverno e quase gelada nos dias de calor.»
A palavra mazagran, que dá título ao livro, só aparece no prefácio. É o tal convite do autor. O resto são «recordações e outras fantasias», como o próprio explica no subtítulo.
No fundo, trata-se de um conjunto de crónicas, boa parte delas em forma epistolar. Por elas, passam as reflexões de um transmontano a viver há décadas na Holanda. Até há muito pouco tempo, aliás, Rentes de Carvalho era mais conhecido no país que o acolheu - e que chegou a fazer dele um autor best-seller - do que no país onde nasceu.
Agora que as suas obras estão finalmente a ser publicadas com destaque na sua língua original, o português, é caso para lembrar a frase-síntese de José Saramago a respeito de uma obra que vale a pena descobrir: «o prazer da linguagem em que a simplicidade vai de par com a riqueza.
Edição/reimpressão: 2012
Páginas: 320
Editor: Quetzal
16,60€
José Rentes de Carvalho
De ascendência transmontana, J.Rentes de Carvalho nasceu em 1930, em Vila Nova de Gaia, onde viveu até 1945. Frequentou no Porto o Liceu Alexandre Herculano, e mais tarde os de Viana do Castelo e de Vila Real, tendo cursado Românicas e Direito em Lisboa - onde cumpriu o serviço militar. Obrigado a abandonar o país por motivos políticos, viveu no Rio de Janeiro, em São Paulo, Nova Iorque e Paris, trabalhando para jornais como O Estado de São Paulo, O Globo ou a revista O Cruzeiro. Em 1956 passou a viver em Amesterdão, na Holanda, como assessor do adido comercial da Embaixada do Brasil. Licenciou-se (com uma tese sobre Raul Brandão) na Univ. de Amesterdão, onde foi docente de Literatura Portuguesa entre 1964 e 1988. Dedica-se desde então exclusivamente à escrita e a uma vasta colaboração em jornais portugueses, brasileiros, belgas e holandeses, além de várias revistas literárias. A sua bibliografia inclui romances (entre eles, Montedor, 1968, O Rebate, 1971, A Sétima Onda, 1984, Ernestina, 1998, A Amante Holandesa, 2003), contos, diário (Tempo Contado ou Tempo sem Tempo), crónica (Mazagran, 1992) e guias de viagem. O seu Portugal, een gids voor vrienden (Portugal, Um Guia para Amigos), de 1988, esgotou dez edições. Com os Holandeses (Waar die andere God woont, publicado originalmente em neerlandês, em 1972, e um sucesso editorial na Holanda) é a primeira obra de J. Rentes de Carvalho no catálogo da Quetzal. O mais recente título de Rentes de Carvalho é Gods Toorn over Nderland - A Ira de Deus sobre a Holanda. Em 2012 foi galardoado com o Grande Prémio de Literatura Biográfica APE/Câmara Municipal de Castelo Branco 2010-2011com o livro Tempo Contado.