terça-feira, 11 de dezembro de 2012


Dois trabalhos de investigação, de minha autoria, que disponibilizo aos interessados, nomeadamente aos investigadores. O primeiro trabalho é inédito. O segundo trabalho, originalmente publicado pela Câmara Municipal de Freixo de Espada à Cinta, pode ser consultado e fazendo download no link da coluna da direita.

Uma aldeia transmontana
MORFOLOGIA SOCIAL DE FORNOS

A metodologia usada nesta investigação fundamenta-se na participação do autor na maioria das actividades agrícolas e afins implementadas pelos residentes de Fornos e em entrevistas informais.
   Apesar dos “factos” e da interpretação dos factos terem uma forte base de conhecimento empírico, não deixámos de consultar algumas fontes escritas – sem as quais a leitura do presente ficaria obscurecida -, de formular hipóteses e de alvitrar eventuais caminhos de desenvolvimento.
   O âmago do nosso estudo situa-se temporalmente em 2002, mas muitas das informações colhidas pressupõem um conhecimento profundo do pulsar da aldeia dos últimos quarenta anos. Desde miúdos que convivemos com a comunidade forneira. Conhecemos as suas virtudes e os seus pontos fracos. Sabemos as suas preferências clubísticas e políticas. Acompanhámos (e participámos esporadicamente) na faina diária dos jeireiros, desde o tempo em que trabalhavam de sol a sol, ganhando uns miseráveis vinte escudos que mal davam para comprar um pão, até à redução do tempo de trabalho e à melhoria do nível de vida, em particular a partir da “revolução dos cravos”. Presenciámos o crescimento urbano da aldeia – crescimento esse nem sempre conforme com as exigências de preservação das suas características arquitectónicas tradicionais -, o aumento e a crescente melhoria das suas infra-estruturas (rede de esgotos, rede de distribuição de água ao domicílio, ampliação da rede eléctrica pública, etc.). Fomos espectadores dos fluxos migratórios e emigratórios, que despojaram a aldeia de jovens e aceleraram o envelhecimento da sua população. Assistimos à pujança, ao declínio e ao perecimento das suas tradições mais emblemáticas – as acéssias (ou assécias?)* , por exemplo, realizaram-se pela última vez no ano de 1976.
   Em suma: a aldeia que aqui vos apresentamos não é uma imagem fria e distante enxergada pela objectiva de uma máquina fotográfica, mas sim um retrato humano vivo, actuante e empenhado do qual o autor, de certo modo, fez, faz e fará parte indissociável.

* Tradição em que os rapazes, na primeira segunda-feira a seguir à festa principal (primeiro Domingo de Setembro), ao som de um realejo, dançavam uns com os outros – metade deles vestidos com trajes femininos -, à porta das raparigas solteiras, recebendo destas vinho, doces, etc.