sábado, 5 de janeiro de 2013

NA ANDADURA DO TEMPO

                                                          Um livro de contos admirável.            

                                            Na Andadura do Tempo


Sinopse
Antigamente o tempo não se escoava, antes passava de mão em mão, como a Sagrada Família, de pai para filho e deste para o neto, sempre na mesma ampulheta de trabalhos na terra, de geadas para o lavrador se pôr a pau, de torreiras em Agosto a argamassar os regos secos, de romarias a horas como as badaladas das trindades. De modos que o tempo dos antigos era o mesmo dos novos e dos que ainda estavam para vir. Mas a rodas das estações electrificou-se e desatou a girar sem pausas nem esperas pelos mais atrasados. Nas águas dos ribeiros e no lavradio caíram químicos e plásticos, o grão foi enferrujando nas arcas e as giestas e estevas são mais que as mães por entre as fragas e os torrões. Aguilhoados pelo colorido falso do ecrã, os novos foram à vida para outras paragens e até os pinhos desertam do interior, enegrecidos, no bojo das camionetas, iludidos pelos fogos arribados na liberdade de Abril. Restam poucos, calvos e brancos.

"A literatura portuguesa afastou-se muito do mundo rural. Longe vão os romances de Aquilino Ribeiro ou os Retalhos da Vida de um Mádico, de Namora, o Barranco de Cegos, de Redol, a Seara de Vento, de Manuel da Fonseca, as obras primas de Carlos de Oliveira situadas nos campos da Gândara. A vida mudou, os campos despovoaram-se, a cidade tornou-se o espaço preferido da nossa ficção. Contudo, há ainda grandes escritores da natureza, conhecedores das gentes e das fainas agrícolas, como Bento da Cruz, Francisco Duarte Mingas ou mesmo, especialmente em Nenhum Olhar, José Luís Peixoto. Vítor da Rocha enfileira, com talento, nessa pequena hoste. O seu livro de contos Na Andadura do Tempo, dá-nos retratos e cenas do mundo camponês de grande sensibilidade, observação e dramatismo. Pessoalmente, fiquei preso à leitura do conto admirável que abre este livro: A Puta e o Anjo, uma história bem crua e no entanto puríssima sobre a vida dadivosa de uma prostituta de aldeia. Em todo o livro, a segurança sintáctica, a riqueza vocabular, o poder de comparação de Vítor da Rocha creditam-no como um notável prosador, seguro dos seus temas e processos." Urbano Tavares Rodrigues