domingo, 27 de outubro de 2013

Jesus Cristo bebia cerveja, de Afonso Cruz


                                        
Costuma-se dizer que se Maomé não vai à montanha vai a montanha a Maomé. No centro do novo romance de Afonso Cruz está precisamente este aforismo. Há uma idosa alentejana cujo maior desejo é visitar a Terra Santa. Como a neta não a pode levar lá, é engendrada uma forma de trazer Jerusalém até ao Alentejo. É aqui que reside o aspeto cómico de um romance que se revela no entanto uma tragicomédia.

«É certo e sabido» - lê-se num dos últimos parágrafos - «que o final feliz é uma invenção humana, uma necessidade de obliterar a morte. A vida nunca acaba bem». No caso da vida de Rosa - a personagem principal, neta da tal idosa que queria ir a Jerusalém - a infância também já não foi auspiciosa. Viu o avô atirar-se a um poço, o pai enforcar-se e a mãe fugir de casa.
Cobiçada pelo olhar lúbrico dos homens, Rosa há-de descobrir no professor Borja um cúmplice, primeiro, e depois o objeto da sua trágica dádiva.
É o professor Borja, um erudito sem audiência nem reconhecimento, que há de preparar o cenário da falsa Jerusalém. Exigindo no entanto a fidelidade a detalhes importantes: entre eles, o facto de Jesus Cristo beber cerveja e não vinho.
Não se trata de uma liberdade ficcional mas de um aspeto que tem sido discutido pela História. O professor Borja é taxativo: «O que se bebia no espaço geográfico em que Cristo habitava era cerveja. O vinho era uma bebida de romanos, dos invasores. Cristo não iria beber a bebida dos ricos, dos opressores».

Prémios Time Out Lisboa 2012 - Livro do Ano
Edição/reimpressão: 2012
Páginas: 248
Editor: Alfaguara Portugal

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