segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

O PORCO DE ERIMANTO

Um coração doente é o melhor tesouro que um homem pode ambicionar. Bem sei que eles acham que não. Ainda ontem esteve um deles a falar na televisão: que estamos em Maio, que Maio é o mês do coração, que é preciso olharmos pelo coração, vigiar o peso, fazer exercício, não fumar… Tretas! O que eles querem dessa forma é despojar-nos de uma das nossas maiores riquezas, que é a morte rápida, oportuna e inopinada, provocada por um enfarte, para nos entregar de mão beijada à morte lenta, preenchida de dores, provocada por algum cancro ou coisa assim. Ou, se calhar ainda pior, à vida puramente vegetativa do mal de Alzheimer. Achas que ganhamos com a troca? Hã? Quem aceitará morrer às dentadas de um cão rafeiro, podendo morrer arrebatado por uma águia-real?

Grande Prémio de Conto Camilo Castelo Branco 2011.
Plano Nacional de Leitura: livro recomendado para o Ensino Secundário como sugestão de leitura.

«Nove fábulas sobre a doença e a mortalidade, e uma alegoria monstruosa. 

Um autodidacta torna-se historiador emérito. Mas a História é um domínio demasiado vasto. Especializa-se então na História da civilização grega. Depois, em mitologia grega. Depois, mais especificamente, nos trabalhos de Hércules. E destes, especializa-se na questão do javali de Erimanto. Tem uma sede de conhecimento insaciável, uma febre da especialização indomável. Em consequência disso, o homem que sabe tudo sobre o javali de Erimanto vai-se tornando num javali. O processo de "suinificação", com todos os horrores de uma metamorfose, é a apoteose do conhecimento. Transforma-se o amador na coisa amada, e o espectáculo é deprimente.

Esta é a mais sintética fábula de "O Porco de Erimanto", colectânea de dez contos de A.M. Pires Cabral. Autor prolífico, a sua actividade de contista foi mais produtiva em meados dos anos 80, com "O Diabo Veio ao Enterro", "Memórias de Caça" e "O Homem que Vendeu a Cabeça"; "O Porco de Erimanto" é uma versão revista e aumentada deste último título. São dez as fábulas, geralmente de cunho fantástico, algumas divertidas, outras francamente assustadoras.
Há um funcionário com fumos de poeta, alojado numa pensão estadonovista, que vê a sua sanidade mental em perigo por causa de um misterioso buraco na parede. Um homem que vende a cabeça à ciência. Outro que luta com a sua sombra. Um desgraçado que ultrapassa um desgosto amoroso com ataques de incontinência urinária. Pires Cabral confunde de propósito a fisiologia e a psicologia, de modo que nunca sabemos o que é natural ou patológico, o que é absurdo ou lógico. Alguns destes sujeitos são vítimas de partidas, outros nasceram sob estrela funesta, mas todos vivem em constante angústia.

Duas ou três histórias têm um cunho mais divertido, como aquela em que o director de uma escola se arroga o direito de inspecções sanitárias intrusivas, numa sátira à ditadura e aos legalismos burocráticos em geral. Mas outros momentos são de puro terror. Não deve haver em português nenhum texto sobre o cancro tão perturbador como "Desidério". Tudo começa com a descoberta de um quisto nas costas do protagonista. Mas aquele sinal, uma excrescência que podia ser rapidamente removida, vai ficando, vai dominando a vida do seu portador, que com ele cria uma relação íntima, umbilical, quase de ternura. Pires Cabral chama ao cancro uma "autofagia", porque é uma doença que nos consome por dentro. E depois descreve em detalhe esses medos e devastações. Não são páginas sentimentais. É uma monstruosa alegoria que lembra Ballard: "É então fabricada uma réplica exacta de cada autófago, de material sintético, que não só é perfeitamente comestível como reproduz o sabor da carne humana e contém um alto teor proteínico. Tais réplicas são colocadas à disposição de cada doente, nos seus aposentos. E então os doentes vão-nas consumindo à medida dos seus impulsos". E continua: "Fala-se de certos efeitos secundários desagradáveis, entre os quais a tendência para uma progressiva transformação da autofagia em antropofagia. Mas nada se provou ainda. E os autófagos ricos podem devorar-se em efígie (...)" (p. 196).

Em todos estes contos há intimações de mortalidade, vistas com uma frieza sarcástica mas não despojada de humanidade; mas, com "Desidério", A.M. Pires Cabral escreveu uma aterradora transposição da mais inominável das doenças contemporâneas, a mais activa forma actual da nossa finitude. O caranguejo trespassado por uma lança é a imagem que abre as portas ao delírio imaginativo, à fábula pavorosa, à doença como condição humana essencial: "Cada qual deve acalentar dentro de si uma doença. Mens sana in corpore sano - para quê?!... Devemos é ter dentro de nós um relógio que nos lembre periodicamente quia pluvius sumus, que temos tributos a pagar à mecânica da carne. E que cada um pague na moeda de que dispuser. (...) Por isso eu digo: a cada um sua moléstia" (p. 178). Não é só a escrita impecável que nos agarra nestas fábulas: é não podermos fingir que não é nada connosco.»
Pedro Mexia, Ípsilon – Público
                                                    Foto: “O Porco de Erimanto” de A.M. Pires Cabral

Um coração doente é o melhor tesouro que um homem pode ambicionar. Bem sei que eles acham que não. Ainda ontem esteve um deles a falar na televisão: que estamos em Maio, que Maio é o mês do coração, que é preciso olharmos pelo coração, vigiar o peso, fazer exercício, não fumar… Tretas! O que eles querem dessa forma é despojar-nos de uma das nossas maiores riquezas, que é a morte rápida, oportuna e inopinada, provocada por um enfarte, para nos entregar de mão beijada à morte lenta, preenchida de dores, provocada por algum cancro ou coisa assim. Ou, se calhar ainda pior, à vida puramente vegetativa do mal de Alzheimer. Achas que ganhamos com a troca? Hã? Quem aceitará morrer às dentadas de um cão rafeiro, podendo morrer arrebatado por uma águia-real?

Grande Prémio de Conto Camilo Castelo Branco 2011.
Plano Nacional de Leitura: livro recomendado para o Ensino Secundário como sugestão de leitura.

«Nove fábulas sobre a doença e a mortalidade, e uma alegoria monstruosa. 

Um autodidacta torna-se historiador emérito. Mas a História é um domínio demasiado vasto. Especializa-se então na História da civilização grega. Depois, em mitologia grega. Depois, mais especificamente, nos trabalhos de Hércules. E destes, especializa-se na questão do javali de Erimanto. Tem uma sede de conhecimento insaciável, uma febre da especialização indomável. Em consequência disso, o homem que sabe tudo sobre o javali de Erimanto vai-se tornando num javali. O processo de "suinificação", com todos os horrores de uma metamorfose, é a apoteose do conhecimento. Transforma-se o amador na coisa amada, e o espectáculo é deprimente.

Esta é a mais sintética fábula de "O Porco de Erimanto", colectânea de dez contos de A.M. Pires Cabral. Autor prolífico, a sua actividade de contista foi mais produtiva em meados dos anos 80, com "O Diabo Veio ao Enterro", "Memórias de Caça" e "O Homem que Vendeu a Cabeça"; "O Porco de Erimanto" é uma versão revista e aumentada deste último título. São dez as fábulas, geralmente de cunho fantástico, algumas divertidas, outras francamente assustadoras.
Há um funcionário com fumos de poeta, alojado numa pensão estadonovista, que vê a sua sanidade mental em perigo por causa de um misterioso buraco na parede. Um homem que vende a cabeça à ciência. Outro que luta com a sua sombra. Um desgraçado que ultrapassa um desgosto amoroso com ataques de incontinência urinária. Pires Cabral confunde de propósito a fisiologia e a psicologia, de modo que nunca sabemos o que é natural ou patológico, o que é absurdo ou lógico. Alguns destes sujeitos são vítimas de partidas, outros nasceram sob estrela funesta, mas todos vivem em constante angústia.

Duas ou três histórias têm um cunho mais divertido, como aquela em que o director de uma escola se arroga o direito de inspecções sanitárias intrusivas, numa sátira à ditadura e aos legalismos burocráticos em geral. Mas outros momentos são de puro terror. Não deve haver em português nenhum texto sobre o cancro tão perturbador como "Desidério". Tudo começa com a descoberta de um quisto nas costas do protagonista. Mas aquele sinal, uma excrescência que podia ser rapidamente removida, vai ficando, vai dominando a vida do seu portador, que com ele cria uma relação íntima, umbilical, quase de ternura. Pires Cabral chama ao cancro uma "autofagia", porque é uma doença que nos consome por dentro. E depois descreve em detalhe esses medos e devastações. Não são páginas sentimentais. É uma monstruosa alegoria que lembra Ballard: "É então fabricada uma réplica exacta de cada autófago, de material sintético, que não só é perfeitamente comestível como reproduz o sabor da carne humana e contém um alto teor proteínico. Tais réplicas são colocadas à disposição de cada doente, nos seus aposentos. E então os doentes vão-nas consumindo à medida dos seus impulsos". E continua: "Fala-se de certos efeitos secundários desagradáveis, entre os quais a tendência para uma progressiva transformação da autofagia em antropofagia. Mas nada se provou ainda. E os autófagos ricos podem devorar-se em efígie (...)" (p. 196).

Em todos estes contos há intimações de mortalidade, vistas com uma frieza sarcástica mas não despojada de humanidade; mas, com "Desidério", A.M. Pires Cabral escreveu uma aterradora transposição da mais inominável das doenças contemporâneas, a mais activa forma actual da nossa finitude. O caranguejo trespassado por uma lança é a imagem que abre as portas ao delírio imaginativo, à fábula pavorosa, à doença como condição humana essencial: "Cada qual deve acalentar dentro de si uma doença. Mens sana in corpore sano - para quê?!... Devemos é ter dentro de nós um relógio que nos lembre periodicamente quia pluvius sumus, que temos tributos a pagar à mecânica da carne. E que cada um pague na moeda de que dispuser. (...) Por isso eu digo: a cada um sua moléstia" (p. 178). Não é só a escrita impecável que nos agarra nestas fábulas: é não podermos fingir que não é nada connosco.»
Pedro Mexia, Ípsilon – Público

Disponível na Traga-Mundos – livros e vinhos, coisas e loisas do Douro em Vila Real... | Traga-Mundos – lhibros i binos, cousas i lhoisas de l Douro an Bila Rial...
[também do autor os títulos: “O Cónego”e “A Loba e o Rouxinol” (romance); “O Diabo Veio Ao Enterro”, “O Porco de Erimanto” e “Os Anjos Nús” (contos); “Que Comboio É Este”, “Arado”, “Antes Que O Rio Seque” e “Cobra-D’Água” (poesia); “Trocas e Baldrocas ou com a natureza não se brinca” com ilustrações de Paulo Araújo (infanto-juvenil); “Língua Charra – Regionalismos de Trás-os-Montes e Alto Douro” Volume I – A-E, 568 p. e Volume II – F-Z, 606 p.;  “Páginas de Caça na Literatura de Trás-os-Montes” (selecção de textos e organização, antologia); “Aqui e Agora Assumir o Nordeste” (antologia) selecção e organização de Isabel Alves e Hercília Agarez; “As Águas do Douro” coordenação Gaspar Martins Pereira, “Telhados de Vidro” n.º 18]

CRÓNICAS DA CADEIA

                                     


CRÓNICAS DA CADEIA 

Autores: Vítor Ilharco (texto), Fernando Jorge (ilustrações)
Local de Edição: CoimbraEditor: Coimbra Editora
Editado em: Janeiro - 2014208 págs.
€ 20,14 € 18,13


Local de Edição: CoimbraEditor: Coimbra EditoraJaneiro - 2014 A Coimbra Editora solidarizou-se com a APAR - Associação Portuguesa de Apoio ao Recluso, promovendo a publicação desta obra, onde se reuniram crónicas de Vitor Ilharco, ilustradas por Fernando Jorge.

A receita líquida da venda de “Crónicas da Cadeia” reverte integralmente para a APAR.




Sempre que um cidadão é apanhado pela Justiça cometendo um acto transgressor e grave das normas estabelecidas numa determinada sociedade, vai para a prisão. Enfim, mais ou menos… Dela, cada um de nós, desenha a ideia de uma casa onde o Estado põe o dito cidadão a marinar até que este esteja “preparado para ser reinserido” na dita. “A ver se se emenda, senhor fulano…” Nada mais falso! Ainda que dito muitas vezes até pareça verdade, facto é que ninguém sai melhor do que entrou na prisão! Mas não é sobre isso que aqui venho. Até porque em Portugal não há prisões, outrossim, há estabelecimentos prisionais, o que desde logo, marca toda a diferença…

Certo é que os que por lá passam não são os que violaram a Lei, mas apenas os que foram apanhados nas malhas desta. Como todos sabemos, dependendo do dia, do combustível disponível na esquadra, do despacho e de outros imponderáveis que agora não vêm ao caso. Até porque malhas, há-as para todos os feitios. Limpinho como água é que de prisões, os legisladores, que lhes outorgam definições, nada sabem, os governantes, que lhes impõem regras de funcionamento, nunca viram, e os outros, presos, guardas, técnicos e funcionários, desenrascam-se, cada um a seu modo e de modo a que “passe depressa”. Lá dentro, garantidamente e apenas, Gente como nós. E portanto, Gente que pensa, que ri, que chora e que sente e vive à medida que o tempo e o modo ditados permitem.

O que o leitor aqui vai ler e encontrar, salvaguardados os caricatos, são factos ou ditos de quem sobrevive à vida e ao modo que cada um escolheu ou teve em sorte. Mas de novo e apenas, Gente como nós. Todos peroramos teoria sobre a forma como deveria ser a prisão. Mas lá, nesse outro universo onde todos se amontoam de razões a marinar, a vida, apesar de diferente, estranha e até contra natura, é apenas e ainda assim, apenas vivida por seres humanos.

Técnicos, guardas e presos. É disso que bastas vezes nos esquecemos.

Na prisão, mora apenas Gente.

In prefácio
Hernâni Carvalho
 


       

domingo, 19 de janeiro de 2014

O meu romance de ficção "Inferno no Vaticano" estará nas bancas na próxima quarta-feira, dia 22.
 Aproveito para convidar os meus amigos para o lançamento do livro. Espero o vosso apoio. Obrigado.

Tempos de Mudança nos Territórios de Baixa Intensidade – As Dinâmicas em Trás-os-Montes e Alto Douro

Esta tese reflecte os processos territoriais, sociais e económicos que atravessam as áreas de baixa densidade, procurando percepcionar a diversidade dos territórios rurais e os processos de transformação e recomposição territorial. 

A abordagem empírica é efectuada sobre Trás-os-Montes e Alto Douro. O trabalho encontra-se em três capítulos: "Tipologias e Dinâmicas nos Territórios de Baixa Densidade"; "Dinâmicas e Tipologias Territoriais em Trás-os-Montes e Alto Douro"; "Memórias, reinvenções e instituições em Trás-os-Montes e Alto Douro".

Tese de Doutoramento em Geografia – Ramo de Geografia Humana, Faculdade de Letras, Universidade do Porto, 2010

                                   Foto: “Tempos de Mudança nos Territórios de Baixa Intensidade – As Dinâmicas em Trás-os-Montes e Alto Douro” de Nuno Miguel Fernandes Azevedo

Esta tese reflecte os processos territoriais, sociais e económicos que atravessam as áreas de baixa densidade, procurando percepcionar a diversidade dos territórios rurais e os processos de transformação e recomposição territorial. 

A abordagem empírica é efectuada sobre Trás-os-Montes e Alto Douro. O trabalho encontra-se em três capítulos: "Tipologias e Dinâmicas nos Territórios de Baixa Densidade"; "Dinâmicas e Tipologias Territoriais em Trás-os-Montes e Alto Douro"; "Memórias, reinvenções e instituições em Trás-os-Montes e Alto Douro".

Tese de Doutoramento em Geografia – Ramo de Geografia Humana, Faculdade de Letras, Universidade do Porto, 2010

Disponível na Traga-Mundos – livros e vinhos, coisas e loisas do Douro em Vila Real... | Traga-Mundos – lhibros i binos, cousas i lhoisas de l Douro an Bila Rial...
[também os títulos: “O Rural Plural – olhar o presente, imaginar o futuro” de Elisabete Figueiredo (Coordenação Geral), “O Leito e as Margens – Estratégias familiares de renovação e situações liminares em seis aldeias do Alto Trás-os-Montes raiano (1880-1988)” de Paula Godinho, “Resistir e Adaptar-se – Constrangimentos e estratégias camponesas  no Noroeste de Portugal” de Manuel Carlos Silva, “Trabalho Cooperativo Em Duas Aldeias de Trás-os-Montes” de José Portela, “Ir a Voltar – Sociologia de uma Colectividade Local do Noroeste Português (1977-2007)” de José Madureira Pinto, João Queirós (Orgs.), “Vida na Raia – Prostituição feminina em regiões de fronteira” de Manuela Ribeira, Manuel Carlos Silva, Johanna Schouten, Fernando B. Ribeiro, Octávio Sacramento, “Mundo Rural – Transformação e Resistência na Península Ibérica (Século XX)” coordenação de Dulce Freire, Inês Fonseca, Paula Godinho, “Etnografia e Intervenção Social – por uma praxis reflexiva” de Pedro Gabriel Silva, Octávio Sacramento, José Portela (coordenação)]

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

 

Primeira tradução para Língua Portuguesa da obra Kalevala

 Primeira tradução direta e integral para Língua Portuguesa da obra Kalevala, o poema épico da Finlândia

Cerimónia de lançamento dia 22 de abril, pelas 18:00, na sede do Camões IP
 A primeira tradução portuguesa feita diretamente do original da obra Kalevala, o poema épico da Finlândia escrito no século XIX por Elias Lönnrot, será apresentada em Lisboa na próxima segunda-feira, 22 de abril de 2013, pelas 18:00, na sede do Camões, IP (Av. da Liberdade, 270), numa cerimónia que contará com a presença de uma das tradutoras, Ana Isabel Soares.
Folclorista, filólogo e médico, Lönnrot (1802-1884) escreveu o livro que viria ser considerado o texto épico da nacionalidade finlandesa na sequência de uma criteriosa recolha de cantigas da tradição oral que fez na região da Carélia, zona atualmente dividida entre a Finlândia e a Rússia.
O seu desejo era construir e dar a conhecer uma epopeia nacional tão grandiosa quanto eram a Odisseia, o ciclo germânico dos Nibelungos ou Os Lusíadas. Pretendia, no fundo, servir a ideia de uma nação finlandesa, que continuava a ser um território gerido alternadamente por governos suecos e russos. O texto teve três versões e a última, de 1849, veio a ser considerada definitiva.
Constituído por 50 cantos, o épico Kalevala é ainda hoje utilizado em todo o mundo como documento de base ao estudo da literatura e da cultura da Finlândia. Do património tradicional recolhido por Lönnrot constam fábulas, baladas, poemas líricos e épicos, esconjuros, cosmogonias, rituais, invocações pagãs e cantos fúnebres.
A edição agora apresentada, com a chancela da editora D. Quixote, é enriquecida com ilustrações, muitas a cores, do pintor Rogério Ribeiro (1930-2008). Consiste num volume de 600 páginas que reflete um complexo e exigente trabalho de minúcia linguística, atestado por mais de 300 notas explicativas.
Além das dificuldades gramaticais e lexicais decorrentes do funcionamento de dois idiomas com origens muito distintas, o finlandês e o português, a tradução de Kalevala requereu consultas especializadas de botânicos, zoólogos, geólogos e etnógrafos, na busca do vocabulário apropriado para referir elementos da fauna e da flora.
Mais de 150 anos após a edição original, Ana Isabel Soares e Merja de Mattos-Parreira assinam em conjunto a primeira tradução direta e integral do épico Kalevala em língua portuguesa. Do ponto de vista textual, o seu objetivo foi fazer justiça ao ritmo, à prosódia e à riqueza lexical que universalmente caracterizam a obra-prima de Elias Lönnrot.
Ana Isabel Soares é doutorada e pós-doutorada em Teoria da Literatura. Merja de Mattos-Parreira, falante nativa de finlandês, é doutorada em Linguística Inglesa. As duas são professoras na Universidade do Algarve.
A presente edição é dada à estampa com o apoio da Kalevala Society e do Finnish Literature Exchange (FILI), e ainda com o patrocínio da Fundação Juminkeko, cujo trabalho se centra no conhecimento, interpretação e divulgação do Kalevala. A obra tem um preço de capa de 30 euros.

O Camões - Instituto da Cooperação e da Língua (Camões, I.P.) é um instituto público tutelado pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE) que tem por missão propor e executar a política de cooperação portuguesa e a política de ensino e divulgação da língua e cultura portuguesas no estrangeiro.

Lisboa, 17 de abril de 2013


Gabinete de Documentação e Comunicação
imprensa@camoes.mne.pt
Camões - Instituto da Cooperação e da Língua, IPMinistério dos Negócios EstrangeirosRua Rodrigues Sampaio, nº3 – R/cº1250-147 Lisboa - PortugalTel.: +351 21 317 6718  | 21 317 6737https://www.instituto-camoes.pt

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segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

GEIA n.º 3 – Revista da Tertúlia de João de Araújo Correia

  Excerto da comunicação de José Braga-Amaral no III Fórum que pode ser lida, na íntegra, na revista GEIA 3.

“ Valerá a pena reflectirmos, então, e desde logo, sobre as razões que levaram João de Araújo Correia a optar pela sua condição de escritor eremita, parecendo querer estar longe do mundo dos homens. Por muitas conclusões que se possam tentar extrair da sua obra publicada, é na sua correspondência emitida, no seu pendor confessional, que o próprio escritor nos esclarece e dá a resposta.
Para além da sua ligação afectiva, diria embrionária, à sua terra, ao seu rio e à sua região, plasmada em toda a sua obra, bem como, o seu constante impulso de cidadania, do defensor do património e inquietação para com o desenvolvimento inexistente e a baixa condição cultural das gentes da sua terra, recorrente ao longo de toda a sua correspondência; para além de tudo isto, João de Araújo Correia explica-se em duas cartas.
Em carta enviada ao director do semanário “Ala Arriba” da Póvoa de Varzim, em 1969, escreve o nosso autor: «Sem prejuízo das minhas crenças políticas, sou hoje um eremita confinado à prática de apagadas letras. Depois de certos acontecimentos, que foram para mim grandes desilusões, morri para a política militante. Por amor à República e à Liberdade, arrisquei a vida quando a tinha na mão para sacrificar. Hoje, só o amor à Pátria me obrigará a sair do meu eremitério. É-me tão útil este isolamento que me permite julgar, com absoluta isenção, os homens e as coisas.»
Em carta a Fernando Namora, em 1972, escreve: «Tomara eu que as minhas pobres letras se expandissem pelo mundo todo. Mas, com este meu feitio, próprio de selvagem, metido num buraco, sou incapaz de dar um passo fora do meu âmbito para me tornar conhecido fora do meu país. Quem quer que me descubra me encontrará para qualquer espécie de leal convívio sem eu abdicar da minha casmurrice.»
Mas, João de Araújo Correia nem por isso esteve longe dos homens, dos acontecimentos, do país e do mundo. Por isso se tornou num epistológrafo compulsivo, num leitor de notícias de Portugal e da Europa, num leitor selectivo, abrangente e enciclopédico, satisfazendo a sua sede de conhecimento e de actividade constante em cada tempo do seu tempo.







                                   Foto: “GEIA” n.º 3 – Revista da Tertúlia de João de Araújo Correia

Excerto da comunicação de José Braga-Amaral no III Fórum que pode ser lida, na íntegra, na revista GEIA 3.

“ Valerá a pena reflectirmos, então, e desde logo, sobre as razões que levaram João de Araújo Correia a optar pela sua condição de escritor eremita, parecendo querer estar longe do mundo dos homens. Por muitas conclusões que se possam tentar extrair da sua obra publicada, é na sua correspondência emitida, no seu pendor confessional, que o próprio escritor nos esclarece e dá a resposta.
Para além da sua ligação afectiva, diria embrionária, à sua terra, ao seu rio e à sua região, plasmada em toda a sua obra, bem como, o seu constante impulso de cidadania, do defensor do património e inquietação para com o desenvolvimento inexistente e a baixa condição cultural das gentes da sua terra, recorrente ao longo de toda a sua correspondência; para além de tudo isto, João de Araújo Correia explica-se em duas cartas.
Em carta enviada ao director do semanário “Ala Arriba” da Póvoa de Varzim, em 1969, escreve o nosso autor: «Sem prejuízo das minhas crenças políticas, sou hoje um eremita confinado à prática de apagadas letras. Depois de certos acontecimentos, que foram para mim grandes desilusões, morri para a política militante. Por amor à República e à Liberdade, arrisquei a vida quando a tinha na mão para sacrificar. Hoje, só o amor à Pátria me obrigará a sair do meu eremitério. É-me tão útil este isolamento que me permite julgar, com absoluta isenção, os homens e as coisas.»
Em carta a Fernando Namora, em 1972, escreve: «Tomara eu que as minhas pobres letras se expandissem pelo mundo todo. Mas, com este meu feitio, próprio de selvagem, metido num buraco, sou incapaz de dar um passo fora do meu âmbito para me tornar conhecido fora do meu país. Quem quer que me descubra me encontrará para qualquer espécie de leal convívio sem eu abdicar da minha casmurrice.»
Mas, João de Araújo Correia nem por isso esteve longe dos homens, dos acontecimentos, do país e do mundo. Por isso se tornou num epistológrafo compulsivo, num leitor de notícias de Portugal e da Europa, num leitor selectivo, abrangente e enciclopédico, satisfazendo a sua sede de conhecimento e de actividade constante em cada tempo do seu tempo.

Disponível na Traga-Mundos – livros e vinhos, coisas e loisas do Douro em Vila Real... | Traga-Mundos – lhibros i binos, cousas i lhoisas de l Douro an Bila Rial...
[também os títulos: “Palavras Fora da Boca”, “Caminho de Consortes”, “Nuvens Singulares”, “Lira Familiar”, “Pátria Pequena”, “Pontos Finais”, “Nova Freguesia”, “Contos e Novelas I (Contos Bárbaros, Contos Durienses, Terra Ingrata)”, “Contos e Novelas II (Cinza do Lar, Casa Paterna, Caminho de Consortes, Folhas de Xisto)”, “Sem Método – notas sertanejas” e “O Porto do meu tempo”. “O Homem do Douro nos contos de João de Araújo Correia” de Altino Moreira Cardoso e “à conversa com João de Araújo Correia” de José Braga-Amaral. Letras Com Vida – literatura, cultura e arte, n.º 2, 2.º semestre de 2010 dossiê escritor “João de Araújo Correia” coordenação de António José Borges. Revista “Geia” n.º1 (Dezembro 2009) e n.º 2 (Dezembro 2011), edição da Tertúlia de João de Araújo Correia – recordamos que também disponibilizamos a ficha de adesão à Tertúlia de João de Araújo Correia]
             


 Lançamento do livro «O meu livrinho do Coração» do Professor Fernando de Pádua e da Professora Luciana Graça com ilustrações de Sofia Travassos Diogo no dia 15 de Janeiro às 18:30 no Restaurante (7 piso) do El Corte Inglés!

                     Foto de Âmbito Cultural - Lisboa.
Dia 13 de Janeiro de 2014, às 21h30, no Grémio Literário Vila-Realense:
– Evocação de Afonso Praça.
– Apresentação do Programa de Actividades do Grémio Literário Vila-Realense para 2014.

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

                                           Foto: RUI PIRES CABRAL e VÍTOR NOGUEIRA em LISBOA

“Em Lisboa, Sobre O Mar. Poesia 2001-2010”

"Um território lido à luz do poema", é como nos aparece Lisboa nesta antologia organizada por Ana Isabel Queiroz, Luís Maia Varela e Maria Luísa Costa. "Lisboa, sobre o Mar", reúne 50 poemas de 26 poetas publicados na primeira década deste século, um projecto nascido dos encontros da Comunidade de Leitores de Paisagens Literárias de Lisboa (IELT/Fabula Urbis).

“(...) se são obviamente diferentes os registos usados - uns mais intimistas, outros mais fotográficos; uns mais sincréticos, outros mais descritivos; uns mais melancólicos, outros mais jocosos -, em todos eles se percebe como as imagens criadas parecem inscrever-se no leitor, transformando-o e transformando a cidade naquele que vai ser um território lido à luz do poema e, assim, uma paisagem única para cada leitor.”

Inclui poemas de: Ana Hatherly, Ana Luísa Amaral, António Carlos Cortez, António Ferra, Armando Silva Carvalho, Carlos Alberto Machado, Eugénio Andrade, Fiama Hasse Pais Brandão, Frederico Lourenço, Gastão Cruz, Hélder Moura Pereira, Jorge Aguiar Oliveira, José Mário Silva, Manuel Alegre, Margarida Ferra, Margarida Vale de Gato, Maria Andresen, Miguel Manso, Nuno Júdice, Paulo Tavares, Pedro Mexia, RUI PIRES CABRAL, Tiago Gomes, Tiago Patrício, Vasco Graça Moura, VÍTOR NOGUEIRA.

Disponível na Traga-Mundos – livros e vinhos, coisas e loisas do Douro em Vila Real... | Traga-Mundos – lhibros i binos, cousas i lhoisas de l Douro an Bila Rial...

"Um território lido à luz do poema", é como nos aparece Lisboa nesta antologia organizada por Ana Isabel Queiroz, Luís Maia Varela e Maria Luísa Costa. "Lisboa, sobre o Mar", reúne 50 poemas de 26 poetas publicados na primeira década deste século, um projecto nascido dos encontros da Comunidade de Leitores de Paisagens Literárias de Lisboa (IELT/Fabula Urbis).

“(...) se são obviamente diferentes os registos usados - uns mais intimistas, outros mais fotográficos; uns mais sincréticos, outros mais descritivos; uns mais melancólicos, outros mais jocosos -, em todos eles se percebe como as imagens criadas parecem inscrever-se no leitor, transformando-o e transformando a cidade naquele que vai ser um território lido à luz do poema e, assim, uma paisagem única para cada leitor.”

Inclui poemas de: Ana Hatherly, Ana Luísa Amaral, António Carlos Cortez, António Ferra, Armando Silva Carvalho, Carlos Alberto Machado, Eugénio Andrade, Fiama Hasse Pais Brandão, Frederico Lourenço, Gastão Cruz, Hélder Moura Pereira, Jorge Aguiar Oliveira, José Mário Silva, Manuel Alegre, Margarida Ferra, Margarida Vale de Gato, Maria Andresen, Miguel Manso, Nuno Júdice, Paulo Tavares, Pedro Mexia, RUI PIRES CABRAL, Tiago Gomes, Tiago Patrício, Vasco Graça Moura, VÍTOR NOGUEIRA.

sábado, 4 de janeiro de 2014

Claro que não, antes pelo contrário

               Foto: “Claro Que Não, Antes Pelo Contrário” de J.B. César

No decorrer da trama, o amor acaba por consolidar-se, apesar de preservado pelo engano, pela omissão. Só a falsidade e a mentira poderão mantê-lo.

«“Claro Que Não, Antes Pelo Contrário” é a história de um aluno de uma remota aldeia serrana que se apaixona pela sua jovem professora. 
Apesar das suas muitas limitações intelectuais, teve, desde início, a consciência de que esta paixão era irrealista, impossível de ser correspondida. No entanto, e para seu tormento, também forte demais para poder sufocá-la.
A professora, suspeitando dos desejos do seu aluno mais velho, atlético, rude nos atos e impetuoso no comportamento, começou a ter algumas dificuldades em repeli-lo.
No decorrer da trama, o amor entre ambos acaba por consolidar-se apesar de preservado pelo engano, ou, no mínimo, pela omissão. Só a falsidade e a mentira poderão mantê-lo.
No fundo, este romance evidencia uma faceta muito comum da condição humana, a importância da mentira nas relações interpessoais, mesmo entre seres que se gostam e estimam, como é o caso das personagens principais.
Daí o título do livro. “Claro que não”. As coisas não são bem assim. “Antes pelo contrário” .
Dado tratar-se de um ambiente especialmente rural, não admira que as personagens utilizem frequentemente a linguagem popular, não raras vezes, com recurso a vários termos e expressões vernáculos das nossas aldeias transmontanas.
Neste romance, também há belíssimos momentos de pausa, em que o leitor poderá deleitar-se com o conteúdo das descrições.»
* Professor Doutor Armindo Mesquita, membro do Conselho do Departamento de Letras, Artes e Comunicação da UTAD

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Sinopse
Claro que não, antes pelo contrário é a história de um aluno de uma remota aldeia serrana que se apaixona pela sua jovem professora. 
Porque inadiáveis afazeres agrícolas o haviam afastado frequentemente da escola desde cedo, as reprovações foram-se sucedendo. Quando se viu obrigado a frequentar o quinto ano da escolaridade obrigatória, era já quase adulto e muito bem constituído.
Apesar das suas muitas limitações intelectuais, teve desde início a consciência de que a sua paixão pela professora era irrealista, impossível de ser correspondida. Mas, para seu tormento, também forte demais para poder sufocá-la.
A professora, suspeitando dos desejos do seu aluno mais velho, atlético, rude nos actos e impetuoso no comportamento, começou a ter algumas dificuldades em repeli-lo. Pelo contrário. A amargura de um noivado longo e insípido, que a condenaria a um futuro cinzento, apagado e irreversível, fragilizavam-lhe frequentemente as defesas. A curiosidade e a auto-estima, o desejo de castigar o noivo macambúzio e, por vezes, até uma mal contida atracção pelo escândalo, levavam-na a insinuar-se e a expor-se, ainda que sempre resguardada por camadas de ambiguidade que a poderiam salvar em última instância.
No decorrer da trama, o amor entre ambos acaba por consolidar-se, apesar de preservado pelo engano, ou, no mínimo, pela omissão. Só a falsidade e a mentira poderão mantê-lo.
Este romance evidencia uma faceta muito comum da condição humana, a importância da mentira nas relações interpessoais, mesmo entre seres que se gostam e estimam.
Daí o título do livro. "Claro que não". As coisas não são bem assim. "Antes pelo contrário".
Neste romance há também belíssimos momentos de pausa, em que o leitor poderá deleitar-se com o conteúdo das descrições.

Edição/reimpressão: 2013
Páginas: 264

Editor: Meios e Ambientes Edições

Preço de capa: 9,90€