domingo, 29 de maio de 2016

                          
«Assiste-se nos livros de Inácio Pignatelli sobre o Douro a um constante diálogo entre dois seres que se amam, se respeitam e se completam. Porque, como diz Mestre Júlio Resende, em entrevista neste livro, o «Douro é um ser que respira. Que reflecte uma espécie de sentimento humano em tal dinâmica, que transmite o alegre e o trágico, a inocência e o presságio. Espelho do céu e do inferno. O seu trajecto iria impor uma enorme determinação vencendo obstáculos sem fim aos quais, afinal, o homem, respondeu num esforço hercúleo, para a sua sobrevivência». E são cerca de novecentos quilómetros desde o mistério do nascer entre meia dúzia de pedrinhas, no meio de uma pocinha de areia húmida, entre tufos de musgo, como uma pequena e tosca cruz de ferro a assinalar o lugar.» Júlio Couto, prefácio

sexta-feira, 27 de maio de 2016

                          

Como interpretação dos factos — e até dos documentos — tornou-se lugar-comum dizer-se que a História é escrita pelos vencedores. Talvez seja mais correcto afirmar que ela é escrita maioritariamente pela classe dominante em que os vencedores se transformaram. A ser verdadeira esta acepção, a História das guerras no Ultramar português tem sido escrita pela classe dominante (militar) que triunfou na revolução de 25 de Abril de 1974, representada pelos oficiais do quadro permanente que dominaram o Conselho da Revolução durante dez anos. Já era mais que tempo de dar à estampa a versão de alguém que viveu e sofreu os últimos dias do quarto império português no olho do furacão, os Capitães do Fim  É ainda cedo, muito cedo, para juízos históricos definitivos. Aliás, qualquer pessoa atenta sabe que em História o que hoje parece definitivo será amanhã denunciado como falsa interpretação de documentos e acontecimentos. O autor tem a esperança de ter dado comCapitães do Fim… do Quarto Império” algum contributo para que os juízos se possam fazer com um mais completo conhecimento dos factos que decorreram na África portuguesa entre 1961 e 1975. Perdeu-se o quarto império, mas ganhou-se a democracia, a liberdade e o fim da guerra.

sexta-feira, 20 de maio de 2016

                                    

terça-feira, 17 de maio de 2016

   
capa manual de guionismo

    minha biblioteca de livros sobre escrita e guionismo inclui várias dezenas de obras, que fui coleccionando e estudando desde que adquiri oScreenplay – The Foundations of Screenwriting de Syd Field numa pequena livraria especializada em cinema, em Los Angeles, há mais de duas décadas.
Esses livros têm constituído parte importante da minha formação como guionista e autor. O Manual de Guionismo, do autor e professor universitário João de Mancelos, é uma das adições mais recentes, que eu não poderia deixar de referir.

Dois mercados, duas medidas

Há um grande défice editorial de livros em língua portuguesa sobre escrita para cinema, especialmente em Portugal. No Brasil ainda se vão encontrando traduções de muitos textos importantes, como o referido Screenplay, editado pela Arte & Letra como Roteiro – Os Fundamentos do Roteirismo, ou o mais recente e muito citado Story. Infelizmente, deste lado do Atlântico as opções são muito mais reduzidas.
Esta discrepância é ainda mais evidente se reduzirmos a análise a livros de autores originais de língua portuguesa. Há algumas – não muitas – obras de autores brasileiros, das quais destacaria o clássico Da criação ao roteiro de Doc Comparato (um dos primeiros livros que li nesta área), ou o mais recente Manual de Roteiro, ou Manuel, o primo pobre dos Manuais de roteiro para Cinema e TV de Leandro Saraiva e Newton Cannito. Mas até há pouco tempo não haviam obras sobre guionismo de autores portugueses (pelo menos que eu saiba; por favor corrija-me se estiver errado). João de Mancelos viu essa lacuna e, ao fim de dois anos de trabalho, colmatou-a com o seu Manual de Guionismo.

Um Manual para os nossos dias

Eu já tinha referido o Manual de Guionismo aqui no blogue na altura da sua edição, mesmo sem o ter lido. Procurei-o várias vezes em livrarias mas nunca tinha tido a sorte de o encontrar. Há dias, na Cinemateca Nacional, lembrei-me que ali seria o sítio certo para o procurar, e acertei finalmente.
O autor, João de Mancelos, é professor de Guionismo na Universidade da Beira Interior e de Escrita Criativa na de Aveiro. O livro é claramente baseado na sua extensa experiência como professor e formador nestas áreas.
É um livro pequeno e rápido de ler, mas com um conteúdo muito rico. Os capítulos são breves e claros, bem organizados, focando temas relevantes de guionismo. A linguagem é simples, acessível e num tom bem-humorado, intercalando pequenas estórias pessoais com muitas referências académicas. É uma combinação peculiar entre o pop e o erudito, mas funciona muito bem.
Por exemplo, logo a abrir o livro, o autor recorda uma memória de infância para introduzir uma citação de Salmon Rushdie sobre a dificuldade em separar a verdade da mentira na literatura. Daí parte para Barthes e outros exemplos de como a arte de mentir satisfaz uma necessidade profunda dos seres humanos.
Todo o livro segue nesse registo, recheado de exemplos retirados da literatura e do cinema clássico e contemporâneo. O autor também é pródigo em anedotas, dicas, sugestões e até exercícios, nascidos na sua experiência como professor, bem exemplificados no capítulo Como fazer a vida negra ao protagonista.
Aí começa por afirmar que “A missão principal de um guionista é simples: fazer a vida negra ao herói, contrariá-lo, colocar-lhe entraves, esmagá-lo com surpresas desagradáveis” e termina com um exercício simples: “Proponho-lhe que identifique o tipo de conflito que existe no seu guião. Depois, veja pelo menos dois filmes que tirem partido deste tipo de imbróglio. Como se constrói o suspense? E que efeito tem o conflito nos personagens?”
Manual de Guionismo não é um livro dogmático, com uma fórmula que força determinados métodos ou abordagens, mas faz uma introdução sucinta às principais teorias da dramaturgia, hoje quase universalmente aceites, como aviagem do herói ou o paradigma.
João de Mancelos termina o seu livro com um curioso making of em que explica o processo de criação da obra e deixa explícita a sua intenção ao escrevê-la: “Este Manual de Guionismo teve por objetivo ajudá-lo a desenvolver as as suas capacidades, através da partilha de estratégias simples, mas eficazes, para construir uma intriga, que sirva de base a um bom filme.”

Conclusão

Manual de Guionismo de João de Mancelos é um livro pensado para as necessidades dos estudantes de um nível introdutório, mas inclui suficientes gemas para interessar também aos mais praticantes mais avançados, ou a qualquer pessoa que goste de cinema em geral. Como tal, é uma adição interessante para todas as bibliotecas. João Nunes

domingo, 8 de maio de 2016

               

"A selecção das filósofas apresentadas no presente livro não pretende de modo algum ser exaustiva, obedecendo às escolhas das investigadoras no que respeita a filósofas dos séculos XX e XXI. Num próximo volume, pretendemos incluir outros nomes relevantes de filósofas contemporâneas, de modo a contrariar o preconceito (surpreendentemente) ainda vigente de que “não há mulheres filósofas”.
Em termos organizativos, as vinte e seis filósofas serão apresentadas por ordem alfabética, uma vez que a estruturação em termos temáticos, por um lado, não facilitava o equilíbrio da publicação e, por outro, poderia conduzir a uma interpretação enviesada das autoras que foram abordadas através de uma problemática específica mas que, todavia, não esgota o espectro da sua obra, como é o caso de Simone Beauvoir ou de Seyla Benhabib, por exemplo."




quinta-feira, 5 de maio de 2016

      
A escrita policial de Fernando Pessoa ocupa um importante lugar na sua obra, pela atenção que o autor lhe dedicou durante décadas, lendo, teorizando e escrevendo. O interesse por este popular género literário manifestou-se cedo, ainda na fase da sua vida em que o inglês era a língua de escrita preferida, com a criação de Tales of a Reasoner, o conjunto dos casos do Ex-Sargeant Byng. Mais tarde, já em português, Pessoa criou o raciocinador Abílio Fernandes Quaresma, cujos casos formam o conjunto com o título Quaresma, Decifrador. O presente ensaio analisa a especificidade do conceito de policial desenvolvido, centrado em Quaresma, uma figura talhada como personalidade literária. Observa ainda a área ficcional da obra de Fernando Pessoa e todo o edifício literário construído em torno do policial.


quarta-feira, 4 de maio de 2016

terça-feira, 3 de maio de 2016

segunda-feira, 2 de maio de 2016

                           

Sinopse:

… há territórios em Portugal que urgem o trato dos Grandes Historiadores: o triângulo espacial de Entre o Zêzere e o Tejo e a fronteira com o país vizinho é um deles. ¶ Apesar de poder ocupar-se dos fenómenos repetíveis, as cheias, as secas, os sismos, o esgotamento de dados recursos, o trabalho essencial do historiador é a descoberta do homem ator no contexto do passado: o território em que vive e a respetiva administração, os recursos e a sua gestão, a concernente organização social, a esfera cultural e a doutrinária, os imaginários e o numinoso, numa palavra, a saga humana. ¶ À interrogação do estado do espaço beirão em causa nos séculos XII-XIV, a doutora Maria da Graça Vicente responde com um formidável levantamento documental e diz-nos muito. O núcleo do trabalho […] mostra-nos um espaço a repovoar-se nos séculos em causa sob o sistema senhorial e confirma a ideia do movimento Norte/Sul da Reconquista no século XII […]. A organização territorial dependeu: da organização concelhia em que D. Sancho I enquadrou os recém-chegados; das Ordens Militares que auxiliaram a Reconquista; e da Sé Egitaniense, que representava o lastro antigo, visigótico e moçárabe […].¶ Fica, pois, adiante, […] um renovado espelho de um grande pedaço do mundo medieval beirão: como os homens se relacionavam com a terra e esta ditava as suas hierarquias de acordo à dimensão dos recursos explorados. A autora prestou uma particular atenção, nunca antes dada, à Ordem do Hospital, pois os seus territórios cortavam este espaço de leste para oeste, formando um enclave de considerável dimensão, trazendo à colação muita documentação original. ¶ [António dos Santos Pereira, (do Prefácio)] ¶¶ A doação da Idanha e Monsanto, à Ordem do Templo (1165), definiu um espaço imenso entre três rios, o Zêzere, o Tejo e o Erges, seguindo-se a criação do grande município da Covilhã, e outorga do respetivo foral (1186) que alargava os territórios de Portugal nesta região. Seguiram-se duas outras doações que ampliaram, por vezes sobrepondo-se, o campo de acção da “jovem” monarquia portuguesa, nas duas margens do Tejo. Referimo-nos às doações das terras da Guidimtesta (1194) e da Herdade da Açafa (1199) que ajudaram a desenhar um núcleo capaz de ser caracterizado como de senhorial e municipal. Nele foram sendo inscritas as marcas evidentes da presença e esforço das gentes que, na sua apropriação e adaptação ao meio natural, lentamente o transformaram em paisagens humanizadas.

Índice:

PREFÁCIO

INTRODUÇÃO

CAPÍTULO I – OS ESPAÇOS FÍSICOS – PATRIMÓNIO NATURAL E CONSTRUÍDO
1. O espaço geográfico
1.1. Locais de passagem
1.2. Condições de defesa e segurança
1.3. A Casa rural e urbana
2. A progressiva ocupação do espaço
2.1. Redes de povoamento
3. O Campo Albicastrense – a presença Templária
4. O “Pinhal Sul” – a presença Hospitalária
5. A Cova da Beira – terras regalengas e poder concelhio

CAPÍTULO II – PRIMEIRA ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA
1. Forais e Cartas de Povoamento
1.1. Os forais – modelo e normativa

CAPÍTULO III – ECONOMIA E SOCIEDADE
1. Esboço demográfico
2. Origem geográfica dos povoadores
3. Grupos Sociais em Presença
3.1. O Clero
3.1.1. Clero secular/clero regular – relação e conflito
3.2. A Nobreza
3.3. As Gentes
3.3.1. Lavradores e pastores
3.3.2. Almocreves e mercadores
3.3.3. Oficiais: mecânicos e letrados

CAPÍTULO IV – A DIVISÃO DA TERRA
1. Propriedade régia
2. Propriedade da nobreza
3. Propriedade das ordens religiosas
3.1. Ordem do Templo/Cristo
3.2. Ordem do Hospital
3.3. Ordem de Avis
3.4. Mosteiro de Santa Maria da Estrela
3.5. Mosteiro de Salzedas
3.6. Cónegos regrantes
3.7. Convento de S. Francisco da Covilhã
4. A propriedade da Igreja secular
4.1. Sé de Coimbra
4.2. Sé da Guarda
5. A propriedade das instituções de assistência
5.1. Albergarias
5.2. Gafarias
6. A propriedade dos Concelhos e pequenos proprietários
6.1. Concelhos
6.2. Pequenos proprietários

CAPÍTULO V – O TRABALHO
1. Agricultura
1.1. Os cereais
1.2. A vinha e o vinho
1.3. Frutas e legumes
1.4. O linho
1.5. A oliveira
2. Pecuária e pastorícia
2.1. A prática da transumância
2.2. Florestas e incultos – Caça, pesca, apicultura
3. Actividades transformadoras
4. Comércio e seus agentes
4.1. Produtos de compra/venda. As Feiras
4.2. Rotas: mercadores e almocreves
4.3. Rede viária: estradas, caminhos e pontes

CAPÍTULO VI – CULTO E ASSISTÊNCIA
1. Os cristãos
2. Os judeus
3. Cobertura assistencial
3.1. Albergarias
3. 2. Gafarias

CAPÍTULO VII – A RELAÇÃO COM O PODER CENTRAL
1. Intervenção régia e conflitualidade
2. Participação nas Cortes – O diálogo com o Rei

CONCLUSÃO
Siglas e Abreviaturas Usadas
FONTES E BIBLIOGRAFIA