Dois trabalhos de investigação, de minha autoria, que disponibilizo aos interessados, nomeadamente aos investigadores. O primeiro trabalho é inédito. O segundo trabalho, originalmente publicado pela Câmara Municipal de Freixo de Espada à Cinta, pode ser consultado e fazendo download no link da coluna da direita.
Uma aldeia transmontana
MORFOLOGIA SOCIAL DE FORNOS
A metodologia usada nesta investigação fundamenta-se na
participação do autor na maioria das actividades agrícolas e afins
implementadas pelos residentes de Fornos e em entrevistas informais.
Apesar dos
“factos” e da interpretação dos factos terem uma forte base de conhecimento
empírico, não deixámos de consultar algumas fontes escritas – sem as quais a
leitura do presente ficaria obscurecida -, de formular hipóteses e de alvitrar
eventuais caminhos de desenvolvimento.
O âmago do nosso
estudo situa-se temporalmente em 2002, mas muitas das informações colhidas
pressupõem um conhecimento profundo do pulsar da aldeia dos últimos quarenta
anos. Desde miúdos que convivemos com a comunidade forneira. Conhecemos as suas
virtudes e os seus pontos fracos. Sabemos as suas preferências clubísticas e
políticas. Acompanhámos (e participámos esporadicamente) na faina diária dos
jeireiros, desde o tempo em que trabalhavam de sol a sol, ganhando uns
miseráveis vinte escudos que mal davam para comprar um pão, até à redução do
tempo de trabalho e à melhoria do nível de vida, em particular a partir da
“revolução dos cravos”. Presenciámos o crescimento urbano da aldeia –
crescimento esse nem sempre conforme com as exigências de preservação das suas
características arquitectónicas tradicionais -, o aumento e a crescente
melhoria das suas infra-estruturas (rede de esgotos, rede de distribuição de
água ao domicílio, ampliação da rede eléctrica pública, etc.). Fomos
espectadores dos fluxos migratórios e emigratórios, que despojaram a aldeia de
jovens e aceleraram o envelhecimento da sua população. Assistimos à pujança, ao
declínio e ao perecimento das suas tradições mais emblemáticas – as acéssias
(ou assécias?)* , por exemplo, realizaram-se pela última vez no ano de
1976.
Em suma: a aldeia
que aqui vos apresentamos não é uma imagem fria e distante enxergada pela
objectiva de uma máquina fotográfica, mas sim um retrato humano vivo, actuante
e empenhado do qual o autor, de certo modo, fez, faz e fará parte indissociável.
* Tradição em que os rapazes, na primeira segunda-feira
a seguir à festa principal (primeiro Domingo de Setembro), ao som de um
realejo, dançavam uns com os outros – metade deles vestidos com trajes
femininos -, à porta das raparigas solteiras, recebendo destas vinho, doces,
etc.