terça-feira, 27 de maio de 2014

MONCORVO - Apresentação do livro “Mil Novecentos e Setenta e Cinco” de Tiago Patrício


 No próximo dia 30 de Maio, pelas 21h00, é apresentado na Biblioteca Municipal de Torre de Moncorvo o livro “ Mil Setecentos e Setenta e Cinco”, do escritor moncorvense Tiago Patrício.

A obra será apresentada por Leonel Brito, produtor e realizador de cinema e TV, editor e fotógrafo.
Durante a sessão serão apresentados excertos dos filmes “Gente do Norte” e “Felgar Ventos de Abril”, o primeiro realizado por Leonel Brito e o segundo, gravado em 1975 por Leonel Brito, Moedas Miguel e Sá Caetano.
O livro “fala de uma viagem improvável a uma aldeia imaginária do Nordeste Transmontano no ano de CÂviragem de 1975, representada num romance por várias personagens que tentam recuperar formas de vida que estão a desaparecer.”
O autor, Tiago Patrício, nasceu no Funchal e foi viver para Carviçais com 9 meses. Estudou Farmácia e em 2007 venceu o prémio Jovens Escritores e foi selecionado pelo Clube Português de Artes e Ideias para uma residência em Praga. Venceu ainda os prémios Daniel Faria e Natércia Freire em poesia e o Prémio Agustina Bessa Luís, em 2011, com o romance Trás-os-Montes.
Câmara Municipal de Torre de Moncorvo, 27 de Maio de 2014

Convite




O Presidente da Câmara Municipal de Vila Real, Eng.º Rui Jorge Cordeiro Gonçalves dos Santos tem a honra de convidar V. Ex.ª e Exm.ª Família a assistir à sessão de apresentação do livro João de Araújo Correia – Cronista das Gentes do Douro, de Manuel Joaquim Martins de Freitas, que terá lugar no dia 28 de Maio de 2014, pelas 21h00, no Auditório da Biblioteca Municipal Dr. Júlio Teixeira. Apresentação a cargo da Prof. Doutora Maria da Assunção Monteiro.

sábado, 24 de maio de 2014

                                     Foto: “Farrusco – Um Cão de Gado Transmontano” de Isabel Maria Fidalgo Mateus, ilustrações de Cristina Borges Rocha

«O Farrusco nasceu durante a primavera, em Trás-os-Montes. Cresceu como filho varão numa época em que eram mais abundantes os rebanhos do que os pastos. Os seus pergaminhos remontam ao mastim medievo, cruzamento de cão com lobo, e o sangue que lhe corre nas veias e a pelagem lobeira, entre outros requisitos que assistem a sua raça, talharam o seu destino desde que brincava no terreiro ainda cachorrinho. Aliás, ficou tudo estabelecido há tempos imemoriais: o Farrusco seria um cão de gado transmontano, pois então!».

A novela Farrusco, Um Cão de Gado Transmontano é o novo livro de Isabel Mateus. A autora regressa assim às suas raízes fundas na ruralidade portuguesa através das sucessivas aventuras e dissabores do seu protagonista Farrusco. Os pergaminhos do Farrusco como cão de gado talharam o seu destino desde que brincava no terreiro ainda cachorrinho para vir a ser no seu mester um dos caibros responsáveis pela sustentação da trave do lar do seu senhor e da economia transmontana.

Sem ainda ter atingido a idade adulta e sem coleira, o Farrusco atirou-se ao lobo com a mesma coragem do seu pai, o Leão. Mais tarde, desarmou os ladrões de gado e devolveu sem demora o rebanho à corte; decifrou o mistério das galinhas feiticeiras; e, pacientemente, assistiu a Mocha durante o difícil parto dos cordeirinhos gemelgos no alto do monte. E sem ele o que teria sido feito do rebanho na Feira das Cerejas, à mercê de mãos gatunas? Mas os episódios da sua saga não se esgotam aqui. O que fará o Farrusco quando o seu amo - o pastor Augusto - tiver passado a fronteira à semelhança dos demais em anos anteriores?

Disponível na Traga-Mundos – livros e vinhos, coisas e loisas do Douro em Vila Real...
[também disponível da autora os títulos: “O Trigo dos Pardais”, “Outros Contos da Montanha”, “Contos do Portugal Rural / Tales of Rural Portugal” introduction and translation by Patricia Anne Odber de Baubeta, “A Terra do Chiculate – relatos da emigração portuguesa”, “A Viagem de Miguel Torga”, “A Terra da Rainha – Retratos Portugueses no Reino Unido” e “A Terra de Duas Línguas – II – Antologia de Autores Transmontanos”]


«O Farrusco nasceu durante a primavera, em Trás-os-Montes. Cresceu como filho varão numa época em que eram mais abundantes os rebanhos do que os pastos. Os seus pergaminhos remontam ao mastim medievo, cruzamento de cão com lobo, e o sangue que lhe corre nas veias e a pelagem lobeira, entre outros requisitos que assistem a sua raça, talharam o seu destino desde que brincava no terreiro ainda cachorrinho. Aliás, ficou tudo estabelecido há tempos imemoriais: o Farrusco seria um cão de gado transmontano, pois então!».

A novela Farrusco, Um Cão de Gado Transmontano é o novo livro de Isabel Mateus. A autora regressa assim às suas raízes fundas na ruralidade portuguesa através das sucessivas aventuras e dissabores do seu protagonista Farrusco. Os pergaminhos do Farrusco como cão de gado talharam o seu destino desde que brincava no terreiro ainda cachorrinho para vir a ser no seu mester um dos caibros responsáveis pela sustentação da trave do lar do seu senhor e da economia transmontana.

Sem ainda ter atingido a idade adulta e sem coleira, o Farrusco atirou-se ao lobo com a mesma coragem do seu pai, o Leão. Mais tarde, desarmou os ladrões de gado e devolveu sem demora o rebanho à corte; decifrou o mistério das galinhas feiticeiras; e, pacientemente, assistiu a Mocha durante o difícil parto dos cordeirinhos gemelgos no alto do monte. E sem ele o que teria sido feito do rebanho na Feira das Cerejas, à mercê de mãos gatunas? Mas os episódios da sua saga não se esgotam aqui. O que fará o Farrusco quando o seu amo - o pastor Augusto - tiver passado a fronteira à semelhança dos demais em anos anteriores?

sábado, 17 de maio de 2014

Contos no Terreiro ao Luar de Agosto,de Júlia Ribeiro (Biló)


Contos, histórias, poemas, lenga-lengas fazem parte do nosso património cultural imaterial. Será a parte  menos visível, mas nem por isso a menos rica. Penso que é um crime deixar que se perca. E seremos todos responsáveis por tal perda.
É  que aquelas histórias alimentavam o imaginário de gerações de pessoas – na sua maioria analfabetas – e constituíam uma forma de socialização extremamente importante. Eram também um código de normas de vida e de princípios morais.
Havia histórias brejeiras, picarescas, que divertiam. Os homens eram os contadores.
Por seu lado, as histórias das velhas tinham sempre um conteúdo muito denso, por vezes arrepiante, com o seu quê de religiosidade e de magia .
Ainda consigo ver  nitidamente  algumas das contadoras e a sua voz vive na minha memória. São estas vozes que, cada vez mais, se vêm impondo, implorando, exigindo não ser esquecidas. Elas sabem que esquecer é uma das formas mais eficazes de deixar morrer.

terça-feira, 13 de maio de 2014

NÃO HÁ FOME QUE NÃO DÊ EM FARTURA...

Ÿ Dia 15 de Maio de 2014, às 18h30, na Livraria Branco (Vila Real):
– Apresentação do livro Tempos históricos de agitação social, de António Pena Gil, pela Dr.ª Ana André.

Ÿ Dia 15 de Maio de 2014, às 21h30, no Auditório da Biblioteca Municipal Dr. Júlio Teixeira (Vila Real):
– Apresentação do livro O Santo Soldado – Antologia, com selecção de textos, organização e posfácio de Elísio Amaral Neves.

Ÿ Dia 16 de Maio de 2014, às 18h30, na Biblioteca Municipal de Chaves:
– Apresentação do livro Memórias da Maria Castanha, de Jorge Lage, pela Dr.ª Isabel Viçoso.

Ÿ Dia 16 de Maio de 2014, às 21h00, na Livraria Traga-Mundos (Vila Real):
– Apresentação do livro Raul Rego – o Jornalista e o Político, de Natália Neves dos Santos.

Ÿ Dia 17 de Maio de 2014, às 16h00, no Museu Abade de Baçal (Bragança):
– Apresentação do livro Raul Rego – o Jornalista e o Político, de Natália Neves dos Santos.

Ÿ Dia 17 de Maio de 2014, às 21h00, na Livraria Poética (Macedo de Cavaleiros):
– Apresentação do livro Raul Rego – o Jornalista e o Político, de Natália Neves dos Santos.

segunda-feira, 12 de maio de 2014

Convite



O Presidente da Câmara Municipal de Vila Real, Eng.º Rui Jorge Cordeiro Gonçalves dos Santos, tem o gosto de convidar V. Ex.ª a assistir à sessão de apresentação do n.º 28 da Colecção Tellus, O Santo Soldado – Antologia, organizada por Elísio Amaral Neves, com pretexto na passagem do duplo centenário do seu fuzilamento (1813).

A sessão terá lugar no dia 15 de Maio de 2014, pelas 21h30, no Auditório da Biblioteca Municipal Dr. Júlio Teixeira, sendo a apresentação feita pelo organizador da antologia.
Dia 16 de Maio de 2014, às 21h00, na Livraria Traga-Mundos (Vila Real):
– Apresentação do livro Raul Rego – o Jornalista e o Político, de Natália Neves dos Santos, pela autora.

terça-feira, 6 de maio de 2014

NOVO LIVRO DE VÍTOR NOGUEIRA



Saiu recentemente, com a chancela da Averno, mais um livro de poesia de Vítor Nogueira. Tem por título Segunda voz, e está dividido em duas partes, “A casa por sob o sótão” e “O sótão por sobre a casa”, cada uma delas contendo dezoito poemas. Tem apresentação cuidada, com capa da designer vila-realense Daniela Gomes.
                Todo o livro se desenvolve numa espécie de diálogo do Autor com um tu que não é outro senão ele próprio. Poesia do concreto e do quotidiano ― concreto e quotidiano que servem de trampolim para a amarga reflexão sobre o sentido da existência.

                O belíssimo poema “Formol”, com que encerra o volume, é por assim dizer uma síntese-recapitulação do resto: «A casa por sob o sótão. O sótão por sobre / a casa. A casa por sobre a rua. A rua por sobre / o mundo. [...] Eras demasiado novo / para todos aqueles livros, / todos aqueles ossos / arrumados nas estantes. Livros como este, / que se fecha sobre si e só dói a quem o escreve.»

segunda-feira, 5 de maio de 2014

CONSTANTIM EM LIVRO



                O Dr. José Augusto da Silva Vieira, poeta de Amanhã não haverá poente e Flores de Outono, resolveu dedicar uma monografia à sua terra natal, Constantim. É um volume de 170 páginas, a que deu o título de Gente da minha Terra – Terra da minha gente.

                O livro é, todo ele, uma declaração de amor a Constantim. Começa por um apanhado histórico, que o Autor tempera com alguma erudição sem com isso o tornar maçudo, e prossegue abordando outros assuntos, com realce para a evocação de aspectos relacionados com a etnografia e com a lavoura, ocupação principal das gentes de Constantim, noutros tempos.

sábado, 3 de maio de 2014

                                      Foto: “Etnografia Transmontana – Volume I – Crenças e Tradições de Barroso” de António Fontes

O Barroso é ainda um dos lugares no qual podemos entregar o tempo à magia da memória do passado e às manifestações religiosas e profanas que continuam cimentadas no presente.
Neste primeiro volume, o percurso etnográfico revolve o fio à meada das crenças e tradições, perdidas e usadas, passando pelas sombras do diabo, mezinhas e bruxarias, definhando o aspecto lúdico do dia-a-dia até à santidade dos dias e suas festas, posfaciando na sabedoria popular cromatizada através dos ditos do povo.
«É por isso que subo nos outeiros e grito: vinde ver o mundo a acabar», apesar de ficar registado neste trabalho de campo a bom tempo.

Biografia: António Fontes nasceu em Cambeses do Rio, Montalegre, em Fevereiro de 1940.
Terminou o curso de Teologia no Seminário de Vila Real em Junho de 1962. Foi pároco, de 1963 a 1971, em Pitões das Júnias e Tourém e, de 1966 a 1971, em Covelães. É actualmente, e desde 1971, padre nas freguesias de Mourilhe, Meixide, Soutelinho da Raia e Vilar de Perdizes, no concelho de Montalegre.
Fundou o jornal “Notícias de Barroso”. Licenciado em História pela Universidade do Porto, é autor de vários trabalhos de recolha etnográfica e investigação nas áreas de Antropologia, Arquitectura, Etnografia e Música. Organizou a representação de «O Auto da Paixão» e vários congressos internacionais: Arquitectura Popular, Caminhos de Santiago, História Medieval. Organiza, desde 1983, os Congressos de Medicina Popular de Vilar de Perdizes, que anualmente levam a esta aldeia do concelho de Montalegre milhares de participantes.
Está representado nas seguintes antologias: “As Chegas de Bois” (organizador), “Trás-os-Montes e Alto Douro e Da Literatura Popular à Literatura Infantil”. É autor das obras “Etnografia Transmontana”, “Os Chás dos Congressos de Vilar de Perdizes”, “Aras Romanas e Terras de Barroso Desaparecidas”, e co-autor de vários títulos, nomeadamente “Medicina Popular”, “Mitos, Crenzas e Costumes da Raia Seca”, “Misarela – A Ponte do Diabo”.

«Não sei se haverá alguém que tanto como António Lourenço Fontes tenha chamado a atenção dos portugueses e dos estudiosos de outras nacionalidades para as características, por vezes bem singulares, da cultura barrosã. Através dos livros, do seu jornal “Notícias de Barroso”, de conferências e entrevistas, dentro e fora do país, de colaboração em filmes, de uma vida paroquial aberta ao meio, do seu trabalho de assessor cultural na Câmara Municipal de Montalegre, de numerosas acções de animação e estudo, nos domínios do artesanato, das tradições, de tudo o que é propriamente popular, trate-se de jogos, arquitectura, teatro, religiosidade ou medicina, tem ele conseguido atrair a curiosidade, o carinho e admiração de muita gente pela sua terra, que até ali vai de longada, pondo olhos e ouvidos nas coisas, não raro embevecidamente.
«Entre quem é» – diz ele, se lhe batem à porta da residência de Vilar de Perdizes, uma construção tipicamente transmontana, logo franqueando aos olhos ávidos de repasto cultural salas e saletas, quartos, cozinhas e lojas, tudo abundantemente guarnecido, abarrotado de livros e cadernos, documentos de vária origem como estatuetas, quadros, peças de artesanato e outras relíquias. Naquela casa tinha vivido o Padre Domingos Barroso, um homem tão devoto dos santos como dos encantos da sua terra e que era especialmente versado em matéria de cinegética. Tanto ele constituiu para António Lourenço Fontes uma sombra tutelar que diligenciou para que no largo fronteiro lhe fosse erguido um monumento. Lá está, bem significativo na sua simplicidade. Desse sacerdote não recebeu, porém, mais do que um incentivo. A pesquisa e a recolha sistemática de mitos e ritos, usos e tradições, que dão um rosto à gente barrosã, estavam ainda por fazer.
Escreve neste livro: «Metia-me medo, por não haver quase nada escrito sobre tudo isto, que foi para mim floresta virgem que tive de explorar.» E a verdade é que explorou, sem bravatas, antes com uma paciência modesta, como é aliás do seu temperamento. Menos preocupado com desenvolvimentos
teóricos e questões taxinómicas do que com o registo atento, tanto quanto possível cingido ao essencial e praticado à luz e segundo a ordem da experiência, com o sacrifício de certo arrumo, acabou por nos deixar um trabalho que fascina pelo despretensiosismo e pelo toque certeiro no que os etnólogos consideram imprescindível e fundamental para as suas teses mais engenhosamente concebidas, ainda que por vezes marcadamente subjectivas e especulativas e, por isso, discutíveis, neste jogo de esquivanças e probabilidades que é o real para toda a ciência.

O campo de observação de António Lourenço Fontes é o da etnografia, no sentido em que C. Levi-Strauss a definiu: «A etnografia consiste na observação e na análise de grupos humanos considerados na sua particularidade e visando a reconstituição, tão fiel quanto possível, da vida de cada um deles.» Retratar e biografar o povo de Barroso foi essa a intenção de António Lourenço Fontes, como transparece do plano traçado para cuja execução trabalhou, «sabe Deus com que dificuldades». Mas as monografias comportam sempre riscos de efectualidade, mesmo tendo em conta o bom senso e a argúcia do critério adoptado, a dedicação e a vantagem de pesquisar a partir de dentro, como é o caso, dado que o autor nasceu no coração de Barroso, onde após os seus cursos em Vila Real e no Porto continuou a viver. Outros etnógrafos tiveram de suportar dificuldades de aceitação pelas comunidades visadas, como sucedeu por exemplo a Malinowski na Melanésia.
Um risco etnográfico é o que se prende com problemas de diacronia e dialéctica. Toda a descrição nesta matéria é selectiva e deixa pressuposta uma teoria, por mais geral que ela seja. Ora, quanto a isto, o primeiro obstáculo a transpor é o de conferir o grau de actualidade ou não de um fenómeno, os factores e o processo da sua evolução e ainda o que há nele de núcleo permanente, com relevo para os vectores de articulação com os outros fenómenos da mesma estrutura ou sistema. António Lourenço Fontes tem consciência disso, expressando a vontade de «recordar tanto as tradições vivas, como as que já morreram»; e em algumas páginas caracteriza «o homem barrosão e o seu feitio», o que não o impede de adoptar seguidamente o método cumulativo, mais de acordo com o retrato do que com a biografia, resultando assim um painel de cromatismos insinuantes, como se o papel deste etnógrafo fosse o de coleccionar revérberos. É um caminho, entre outros, que deixa por apreender o que no fundo é inapreensível, isto é, o espaço de instabilidade latejante que se situa, relativamente a um costume, a meio caminho do que foi e do que é – um espaço onde pulsam determinações endógenas e exógenas cuja fixação descritiva é uma aventura, a menos que do facto social se persiga uma visão hipotético-dedutiva, atenta às formas globalizantes, muito em conformidade com o método estruturalista. A este método porém, que conduz a uma ciência de rigor, escapam os conteúdos vivos, a mobilidade quer ontológica quer factual do ser, tendo-se como certo que a observação e a theoria realizadas a partir do exterior são sempre neste aspecto ou naquele algo deformantes. E daí que o formalismo estruturalista se venha considerando ultrapassado.
António Lourenço Fontes opta pelo registo directo e breve, sem outro enquadramento pontual que não seja o decorrente da localização e o de encostar uns aos outros os factos mais semelhantes entre si, segundo uma concepção da etnografia tradicional. Certo. O leitor e o antropólogo ficam naturalmente satisfeitos com a oferta de textos puros, lavados: que sejam um e outro a operar induções e deduções. Como se dissesse: o povo de Barroso é mais ou menos assim, nos domínios que investiguei; façam agora o favor de comparar e tirar conclusões. Nem sequer, como acontece com «o direito sobre as moças da terra» e as «chegas», ele nos diz claramente até que ponto o costume persiste na forma apresentada ou como possivelmente evoluiu e por que motivos. Como se também nos quisesse dizer: em Barroso foi ou é assim; venham cá e vejam como as coisas, apesar de inevitáveis transculturações, ainda conservam peculiaridades que as identificam e nos identificam.

O que em toda esta obra se subentende não é difícil de perceber, se nos ativermos a afirmações vigorosas como esta: «O homem transforma o ambiente, mas deixa-se impressionar fundamente por ele.» Barroso tem uma configuração geográfica, um clima, um modo de ser, um estar longe de tudo menos de si, uma história cerzida de tradições tão enraizadas na memória e na vida que, mau grado os ventos desculturantes que sopram de várias direcções, irá manter a sua identidade cultural. Identidade para já bem patente naquilo a que Kardiner chama «personalidade de base, comum a todos os barrosões, onde quer que se encontrem, um suplemento de alma que dá vida a estes dois livros, em que se abre uma consciência generosa, a ser ouvida não só pelos seus conterrâneos, mas por quantos assumem a cultura como um dos valores mais preciosos do existir, cépticos felizmente em relação à exclusiva via economicista da paz e da felicidade. Em livros assim tocam os sinos a rebate.» António Cabral, do Prefácio

Disponível na Traga-Mundos – livros e vinhos, coisas e loisas do Douro em Vila Real... ... | Traga-Mundos – lhibros i binos, cousas i lhoisas de l Douro an Bila Rial...
[também disponível do autor os títulos: “Medicina Popular – Ensaio de Antropologia Médica” de António Fontes e João Gomes Sanches, “Padre Fontes – O Romance de uma Vida” de Eugénio Mendes Pinto e “Padre António Fontes – Vida e Obra” de João Gomes Sanches]

O Barroso é ainda um dos lugares no qual podemos entregar o tempo à magia da memória do passado e às manifestações religiosas e profanas que continuam cimentadas no presente.
Neste primeiro volume, o percurso etnográfico revolve o fio à meada das crenças e tradições, perdidas e usadas, passando pelas sombras do diabo, mezinhas e bruxarias, definhando o aspecto lúdico do dia-a-dia até à santidade dos dias e suas festas, posfaciando na sabedoria popular cromatizada através dos ditos do povo.
«É por isso que subo nos outeiros e grito: vinde ver o mundo a acabar», apesar de ficar registado neste trabalho de campo a bom tempo.

Biografia: António Fontes nasceu em Cambeses do Rio, Montalegre, em Fevereiro de 1940.
Terminou o curso de Teologia no Seminário de Vila Real em Junho de 1962. Foi pároco, de 1963 a 1971, em Pitões das Júnias e Tourém e, de 1966 a 1971, em Covelães. É actualmente, e desde 1971, padre nas freguesias de Mourilhe, Meixide, Soutelinho da Raia e Vilar de Perdizes, no concelho de Montalegre.
Fundou o jornal “Notícias de Barroso”. Licenciado em História pela Universidade do Porto, é autor de vários trabalhos de recolha etnográfica e investigação nas áreas de Antropologia, Arquitectura, Etnografia e Música. Organizou a representação de «O Auto da Paixão» e vários congressos internacionais: Arquitectura Popular, Caminhos de Santiago, História Medieval. Organiza, desde 1983, os Congressos de Medicina Popular de Vilar de Perdizes, que anualmente levam a esta aldeia do concelho de Montalegre milhares de participantes.
Está representado nas seguintes antologias: “As Chegas de Bois” (organizador), “Trás-os-Montes e Alto Douro e Da Literatura Popular à Literatura Infantil”. É autor das obras “Etnografia Transmontana”, “Os Chás dos Congressos de Vilar de Perdizes”, “Aras Romanas e Terras de Barroso Desaparecidas”, e co-autor de vários títulos, nomeadamente “Medicina Popular”, “Mitos, Crenzas e Costumes da Raia Seca”, “Misarela – A Ponte do Diabo”.

«Não sei se haverá alguém que tanto como António Lourenço Fontes tenha chamado a atenção dos portugueses e dos estudiosos de outras nacionalidades para as características, por vezes bem singulares, da cultura barrosã. Através dos livros, do seu jornal “Notícias de Barroso”, de conferências e entrevistas, dentro e fora do país, de colaboração em filmes, de uma vida paroquial aberta ao meio, do seu trabalho de assessor cultural na Câmara Municipal de Montalegre, de numerosas acções de animação e estudo, nos domínios do artesanato, das tradições, de tudo o que é propriamente popular, trate-se de jogos, arquitectura, teatro, religiosidade ou medicina, tem ele conseguido atrair a curiosidade, o carinho e admiração de muita gente pela sua terra, que até ali vai de longada, pondo olhos e ouvidos nas coisas, não raro embevecidamente.
«Entre quem é» – diz ele, se lhe batem à porta da residência de Vilar de Perdizes, uma construção tipicamente transmontana, logo franqueando aos olhos ávidos de repasto cultural salas e saletas, quartos, cozinhas e lojas, tudo abundantemente guarnecido, abarrotado de livros e cadernos, documentos de vária origem como estatuetas, quadros, peças de artesanato e outras relíquias. Naquela casa tinha vivido o Padre Domingos Barroso, um homem tão devoto dos santos como dos encantos da sua terra e que era especialmente versado em matéria de cinegética. Tanto ele constituiu para António Lourenço Fontes uma sombra tutelar que diligenciou para que no largo fronteiro lhe fosse erguido um monumento. Lá está, bem significativo na sua simplicidade. Desse sacerdote não recebeu, porém, mais do que um incentivo. A pesquisa e a recolha sistemática de mitos e ritos, usos e tradições, que dão um rosto à gente barrosã, estavam ainda por fazer.
Escreve neste livro: «Metia-me medo, por não haver quase nada escrito sobre tudo isto, que foi para mim floresta virgem que tive de explorar.» E a verdade é que explorou, sem bravatas, antes com uma paciência modesta, como é aliás do seu temperamento. Menos preocupado com desenvolvimentos
teóricos e questões taxinómicas do que com o registo atento, tanto quanto possível cingido ao essencial e praticado à luz e segundo a ordem da experiência, com o sacrifício de certo arrumo, acabou por nos deixar um trabalho que fascina pelo despretensiosismo e pelo toque certeiro no que os etnólogos consideram imprescindível e fundamental para as suas teses mais engenhosamente concebidas, ainda que por vezes marcadamente subjectivas e especulativas e, por isso, discutíveis, neste jogo de esquivanças e probabilidades que é o real para toda a ciência.

O campo de observação de António Lourenço Fontes é o da etnografia, no sentido em que C. Levi-Strauss a definiu: «A etnografia consiste na observação e na análise de grupos humanos considerados na sua particularidade e visando a reconstituição, tão fiel quanto possível, da vida de cada um deles.» Retratar e biografar o povo de Barroso foi essa a intenção de António Lourenço Fontes, como transparece do plano traçado para cuja execução trabalhou, «sabe Deus com que dificuldades». Mas as monografias comportam sempre riscos de efectualidade, mesmo tendo em conta o bom senso e a argúcia do critério adoptado, a dedicação e a vantagem de pesquisar a partir de dentro, como é o caso, dado que o autor nasceu no coração de Barroso, onde após os seus cursos em Vila Real e no Porto continuou a viver. Outros etnógrafos tiveram de suportar dificuldades de aceitação pelas comunidades visadas, como sucedeu por exemplo a Malinowski na Melanésia.
Um risco etnográfico é o que se prende com problemas de diacronia e dialéctica. Toda a descrição nesta matéria é selectiva e deixa pressuposta uma teoria, por mais geral que ela seja. Ora, quanto a isto, o primeiro obstáculo a transpor é o de conferir o grau de actualidade ou não de um fenómeno, os factores e o processo da sua evolução e ainda o que há nele de núcleo permanente, com relevo para os vectores de articulação com os outros fenómenos da mesma estrutura ou sistema. António Lourenço Fontes tem consciência disso, expressando a vontade de «recordar tanto as tradições vivas, como as que já morreram»; e em algumas páginas caracteriza «o homem barrosão e o seu feitio», o que não o impede de adoptar seguidamente o método cumulativo, mais de acordo com o retrato do que com a biografia, resultando assim um painel de cromatismos insinuantes, como se o papel deste etnógrafo fosse o de coleccionar revérberos. É um caminho, entre outros, que deixa por apreender o que no fundo é inapreensível, isto é, o espaço de instabilidade latejante que se situa, relativamente a um costume, a meio caminho do que foi e do que é – um espaço onde pulsam determinações endógenas e exógenas cuja fixação descritiva é uma aventura, a menos que do facto social se persiga uma visão hipotético-dedutiva, atenta às formas globalizantes, muito em conformidade com o método estruturalista. A este método porém, que conduz a uma ciência de rigor, escapam os conteúdos vivos, a mobilidade quer ontológica quer factual do ser, tendo-se como certo que a observação e a theoria realizadas a partir do exterior são sempre neste aspecto ou naquele algo deformantes. E daí que o formalismo estruturalista se venha considerando ultrapassado.
António Lourenço Fontes opta pelo registo directo e breve, sem outro enquadramento pontual que não seja o decorrente da localização e o de encostar uns aos outros os factos mais semelhantes entre si, segundo uma concepção da etnografia tradicional. Certo. O leitor e o antropólogo ficam naturalmente satisfeitos com a oferta de textos puros, lavados: que sejam um e outro a operar induções e deduções. Como se dissesse: o povo de Barroso é mais ou menos assim, nos domínios que investiguei; façam agora o favor de comparar e tirar conclusões. Nem sequer, como acontece com «o direito sobre as moças da terra» e as «chegas», ele nos diz claramente até que ponto o costume persiste na forma apresentada ou como possivelmente evoluiu e por que motivos. Como se também nos quisesse dizer: em Barroso foi ou é assim; venham cá e vejam como as coisas, apesar de inevitáveis transculturações, ainda conservam peculiaridades que as identificam e nos identificam.

O que em toda esta obra se subentende não é difícil de perceber, se nos ativermos a afirmações vigorosas como esta: «O homem transforma o ambiente, mas deixa-se impressionar fundamente por ele.» Barroso tem uma configuração geográfica, um clima, um modo de ser, um estar longe de tudo menos de si, uma história cerzida de tradições tão enraizadas na memória e na vida que, mau grado os ventos desculturantes que sopram de várias direcções, irá manter a sua identidade cultural. Identidade para já bem patente naquilo a que Kardiner chama «personalidade de base, comum a todos os barrosões, onde quer que se encontrem, um suplemento de alma que dá vida a estes dois livros, em que se abre uma consciência generosa, a ser ouvida não só pelos seus conterrâneos, mas por quantos assumem a cultura como um dos valores mais preciosos do existir, cépticos felizmente em relação à exclusiva via economicista da paz e da felicidade. Em livros assim tocam os sinos a rebate.» António Cabral, do Prefácio