terça-feira, 23 de dezembro de 2014

A- A A+ Vergílio Ferreira – Máximas e Reflexões

                                       Vergílio Ferreira – Máximas e Reflexões
Este livro resulta da compilação temática de mais de 750 máximas e reflexões de Vergílio Ferreira, ao longo de toda a sua obra, com incidência nos grandes temas, como o amor, a vida, a felicidade, o autoconhecimento, a liberdade, a verdade, Portugal, etc., numa colecção única de sabedoria, que surpreende tanto pela originalidade das ideias e constatações, como pelo modo intimista e directo como estão escritas.

Servindo como um autêntico dicionário de reflexões, transporta o leitor para mais além, como pontes para novas descobertas dentro do seu interior, num caminho paralelo ao que Vergílio Ferreira construiu ao longo da vida.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

                                  Foto: “Trás-os-Tempos” de Francisco Manuel R. Alves

«A luz de um objeto que avistamos no espaço, luz essa que se libertou há milhões de anos, no momento em que chega até nós estamos a observar o passado, a partir do presente.
É assim este livro: o autor observa «o-seu-tempo» a partir do presente. E não é um tempo absoluto, estático, newtoniano, apesar de o contabilizar. É um tempo pluridimensional, um tempo espacial, um tempo emocional, um «espaço-tempo» que o unifica e que nos unifica. Com ele percebemos a natureza das coisas e de onde provieram, com ele percebemos porque somos como somos.» António Sá Gué

Francisco Manuel Rodrigues Alves, nasceu em 1950, na aldeia de Varge, Bragança, é deficiente visual desde a juventude e  estudou  os primeiros anos nos Seminários de Vinhais e de Bragança, concluindo o ensino secundário no Liceu Camões em Lisboa. Estudou Filosofia na Faculdade de Letras de Lisboa, onde concluiu a Licenciatura em 1981 e o Mestrado em 2003, e foi professor de Filosofia e de Psicologia na Escola Secundária Pedro Alexandrino da Póvoa de St.º Adrião.
Participou ativamente na fusão das Associações de Cegos que levou à criação da ACAPO (Associação dos Cegos e Amblíopes de Portugal) em 1989, tendo sido o Presidente da Comissão Instaladora e o Presidente dos dois primeiros mandatos da Direção Nacional desta Associação.
Foi um dos responsáveis pela organização do desporto para cegos em Portugal e em 1988 foi eleito Presidente da Federação de Desporto para Deficientes, Federação que integra todas as áreas da Deficiência, (Motora, Mental, Paralisia Cerebral, Auditiva e Visual) e na qualidade de Presidente desta Federação integrou as Delegações de Portugal aos Jogos Paraolímpicos de Atlanta de 1996 e de Sidney em 2000.
Em 1995 organizou o I Congresso da ACAPO e o Seminário de Formação Associativa dos Cegos dos Países de Expressão Portuguesa, e fez conferências sobre a temática do associativismo e do desporto para deficientes em Portugal, Macau, Angola e Espanha. 
Foi fundador e diretor da revista da ACAPO, "Luís Braille", revista que reflete o associativismo dos cegos e onde criou, entre outras, a rubrica “Humor Cego”, protagonizada pela personagem Jeremias Bengaladas.
Em 1989 ganhou o prémio Branco Rodrigues com o trabalho "Depoimento dum Professor Cego: O meu itinerário intelectual e vivencial e a alegria de viver", publicado na revista “Diálogo” do Ministério da Educação, tendo ainda conquistado o primeiro prémio de um concurso organizado pela Associação de Cegos Luís Braille com o conto “Viagem no Tempo”, publicado em “Poliedro”, revista editada em braille.

Disponível na Traga-Mundos – livros e vinhos, coisas e loisas do Douro em Vila Real... | Traga-Mundos – lhibros i binos, cousas i lhoisas de l Douro an Bila Rial...

«A luz de um objeto que avistamos no espaço, luz essa que se libertou há milhões de anos, no momento em que chega até nós estamos a observar o passado, a partir do presente.
É assim este livro: o autor observa «o-seu-tempo» a partir do presente. E não é um tempo absoluto, estático, newtoniano, apesar de o contabilizar. É um tempo pluridimensional, um tempo espacial, um tempo emocional, um «espaço-tempo» que o unifica e que nos unifica. Com ele percebemos a natureza das coisas e de onde provieram, com ele percebemos porque somos como somos.» António Sá Gué

Francisco Manuel Rodrigues Alves, nasceu em 1950, na aldeia de Varge, Bragança, é deficiente visual desde a juventude e estudou os primeiros anos nos Seminários de Vinhais e de Bragança, concluindo o ensino secundário no Liceu Camões em Lisboa. Estudou Filosofia na Faculdade de Letras de Lisboa, onde concluiu a Licenciatura em 1981 e o Mestrado em 2003, e foi professor de Filosofia e de Psicologia na Escola Secundária Pedro Alexandrino da Póvoa de St.º Adrião.
Participou ativamente na fusão das Associações de Cegos que levou à criação da ACAPO (Associação dos Cegos e Amblíopes de Portugal) em 1989, tendo sido o Presidente da Comissão Instaladora e o Presidente dos dois primeiros mandatos da Direção Nacional desta Associação.
Foi um dos responsáveis pela organização do desporto para cegos em Portugal e em 1988 foi eleito Presidente da Federação de Desporto para Deficientes, Federação que integra todas as áreas da Deficiência, (Motora, Mental, Paralisia Cerebral, Auditiva e Visual) e na qualidade de Presidente desta Federação integrou as Delegações de Portugal aos Jogos Paraolímpicos de Atlanta de 1996 e de Sidney em 2000.
Em 1995 organizou o I Congresso da ACAPO e o Seminário de Formação Associativa dos Cegos dos Países de Expressão Portuguesa, e fez conferências sobre a temática do associativismo e do desporto para deficientes em Portugal, Macau, Angola e Espanha.
Foi fundador e diretor da revista da ACAPO, "Luís Braille", revista que reflete o associativismo dos cegos e onde criou, entre outras, a rubrica “Humor Cego”, protagonizada pela personagem Jeremias Bengaladas.
Em 1989 ganhou o prémio Branco Rodrigues com o trabalho "Depoimento dum Professor Cego: O meu itinerário intelectual e vivencial e a alegria de viver", publicado na revista “Diálogo” do Ministério da Educação, tendo ainda conquistado o primeiro prémio de um concurso organizado pela Associação de Cegos Luís Braille com o conto “Viagem no Tempo”, publicado em “Poliedro”, revista editada em braille.


Curso de Vinho Para Verdadeiros Apreciadores

Como reconhecer um bom vinho, as principais castas, regiões e produtores de vinho de Portugal e do Mundo, os instrumentos de um enólogo e as dicas essenciais para saber comprar.

«Apreciar o vinho é uma arte, cujos segredos são revelados nas páginas deste livro. Passo a passo, o enólogo e crítico de vinhos João Afonso ensina-lhe todos os truques, técnicas e conhecimentos para se tornar num verdadeiro apreciador de vinho. Depois do sucesso do seu primeiro livro Entender de Vinho, João Afonso traz-lhe o mais completo Curso de Vinho que lhe vai permitir perceber não só como se prova um vinho - do cheiro ao sabor, passando pela cor e pela temperatura - mas também introduzir o leitor no conhecimento das principais castas nacionais, dos seus produtores e das regiões vinícolas mundiais. Sabia que a casta Cabernet Sauvignon é a casta tinta mais famosa, plantada em todo o mundo e tem a sua origem em França? O país que acredita ter os melhores vinhos do mundo! Enquanto fica a saber quais são os vinhos do Porto que fazem parte da lista do top 10, aprenda as técnicas para degustar este vinho recheado de história? Por falar em História, falemos do Vinho da Madeira, o vinho mais antigo e exótico do mundo. Fique ainda com a lista dos vinhos velhos que não devem faltar na sua garrafeira. Sem esquecer os vinhos nacionais e os seus principais produtores, este livro leva-o numa verdadeira viagem de degustação pelos vinhos de todo o mundo. O inconfundível vinho espanhol como o Cavas do Pénedes ou os maravilhosos brancos das Rias Baixas e os soberbos tintos de Ribera del Duero, Rioja e Priorato. Os vinhos de Itália, o paraíso do bom gosto e de qualidade. O complexo mundo dos vinhos alemães. Os surpreendentes vinhos dos países do denominado Novo Mundo como Austrália, África do Sul ou Nova Zelândia. Com este curso, terá a sua escolha facilitada na altura de comprar um bom vinho, para uma festa, um jantar ou simplesmente para ter na sua garrafeira, como um bom investimento. Um livro indispensável, para todos os que apreciam o vinho e querem saber mais sobre este fascinante mundo.»

O enólogo e crítico de vinhos João Afonso revela, no livro "Curso de Vinho para Verdadeiros Apreciadores, todos os truques, técnicas e conhecimentos para que qualquer pessoa se transforme num verdadeiro apreciador de vinho.

Este livro é uma verdadeira viagem de degustação pelos vinhos de todo o mundo, sem esquecer os vinhos nacionais e os seus principais produtores, deixa conselhos sobre os vinhos velhos que não devem faltar nas garrafeiras, sobre o vinho que melhor combina com alguns momentos de celebração, entre outros segredos que só os especialistas conhecem.

Com este curso, terá a sua escolha facilitada na altura de comprar um bom vinho, para uma festa, um jantar ou simplesmente para ter na sua garrafeira, como um bom investimento. Um livro indispensável, para todos os que apreciam o vinho e querem saber mais sobre este fascinante mundo. 

[Boas Notícias]

                                               Foto: “Curso de Vinho Para Verdadeiros Apreciadores” João Afonso

Como reconhecer um bom vinho, as principais castas, regiões e produtores de vinho de Portugal e do Mundo, os instrumentos de um enólogo e as dicas essenciais para saber comprar.

«Apreciar o vinho é uma arte, cujos segredos são revelados nas páginas deste livro. Passo a passo, o enólogo e crítico de vinhos João Afonso ensina-lhe todos os truques, técnicas e conhecimentos para se tornar num verdadeiro apreciador de vinho. Depois do sucesso do seu primeiro livro Entender de Vinho, João Afonso traz-lhe o mais completo Curso de Vinho que lhe vai permitir perceber não só como se prova um vinho - do cheiro ao sabor, passando pela cor e pela temperatura - mas também introduzir o leitor no conhecimento das principais castas nacionais, dos seus produtores e das regiões vinícolas mundiais. Sabia que a casta Cabernet Sauvignon é a casta tinta mais famosa, plantada em todo o mundo e tem a sua origem em França? O país que acredita ter os melhores vinhos do mundo! Enquanto fica a saber quais são os vinhos do Porto que fazem parte da lista do top 10, aprenda as técnicas para degustar este vinho recheado de história? Por falar em História, falemos do Vinho da Madeira, o vinho mais antigo e exótico do mundo. Fique ainda com a lista dos vinhos velhos que não devem faltar na sua garrafeira. Sem esquecer os vinhos nacionais e os seus principais produtores, este livro leva-o numa verdadeira viagem de degustação pelos vinhos de todo o mundo. O inconfundível vinho espanhol como o Cavas do Pénedes ou os maravilhosos brancos das Rias Baixas e os soberbos tintos de Ribera del Duero, Rioja e Priorato. Os vinhos de Itália, o paraíso do bom gosto e de qualidade. O complexo mundo dos vinhos alemães. Os surpreendentes vinhos dos países do denominado Novo Mundo como Austrália, África do Sul ou Nova Zelândia. Com este curso, terá a sua escolha facilitada na altura de comprar um bom vinho, para uma festa, um jantar ou simplesmente para ter na sua garrafeira, como um bom investimento. Um livro indispensável, para todos os que apreciam o vinho e querem saber mais sobre este fascinante mundo.»

O enólogo e crítico de vinhos João Afonso revela, no livro "Curso de Vinho para Verdadeiros Apreciadores, todos os truques, técnicas e conhecimentos para que qualquer pessoa se transforme num verdadeiro apreciador de vinho.

Este livro é uma verdadeira viagem de degustação pelos vinhos de todo o mundo, sem esquecer os vinhos nacionais e os seus principais produtores, deixa conselhos sobre os vinhos velhos que não devem faltar nas garrafeiras, sobre o vinho que melhor combina com alguns momentos de celebração, entre outros segredos que só os especialistas conhecem.

Com este curso, terá a sua escolha facilitada na altura de comprar um bom vinho, para uma festa, um jantar ou simplesmente para ter na sua garrafeira, como um bom investimento. Um livro indispensável, para todos os que apreciam o vinho e querem saber mais sobre este fascinante mundo. [Boas Notícias]

Disponível na Traga-Mundos – livros e vinhos, coisas e loisas do Douro em Vila Real... | Traga-Mundos – lhibros i binos, cousas i lhoisas de l Douro an Bila Rial...
[também disponível do autor: “Entender de Vinho”]

segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

             


Conheça a história de um dos principais divulgadores da língua e cultura mirandesas, que, na próxima terça-feira, 9 de Dezembro, apresenta o mais recente livro, "Ditos Dezideiros – Provérbios Mirandeses", na Casa de Trás-os-Montes e Alto Douro, em Lisboa.



                           Foto: Amadeu Ferreira é o protagonista da reportagem da última página do "Diário de Notícias" de hoje. Conheça a história de um dos principais divulgadores da língua e cultura mirandesas, que, na próxima terça-feira, 9 de Dezembro, apresenta o mais recente livro, "Ditos Dezideiros – Provérbios Mirandeses", na Casa de Trás-os-Montes e Alto Douro, em Lisboa.
Lisboa: Apresentação do livro "Ditos Dezideiros – Provérbios Mirandeses"

É JÁ AMANHÃ

sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Livros antigos sobre Literatura, História, Poesia, etnografia, monografias, arqueologia, bibliofilia, primeiras ediçoes, tiragens especiais, livros de artista, manuscritos, entre tantos outros temas que compõem o universo dos livros antigos.
Lançamento do livro de Anna A. Feitosa
“Eu também vou florir na Primavera”
Terça-feira, dia 2 de Dezembro pelas 21,30 horas
Núcleo Cultural José Afonso
Biblioteca Municipal da Alhos Vedros

quinta-feira, 27 de novembro de 2014


Lançamento de livro "Na Tela da Vida", de Maria Guimarães.
Sábado, 6 de Dezembro às 15:30
Centro Cultural - Amália Rodrigues Rio Tinto (perto da Igreja Matriz)



domingo, 9 de novembro de 2014

                                    Foto: “Montedor” de J. Rentes de Carvalho

Ao longo das gerações são sem conta as famílias portuguesas onde há alguém como o triste protagonista de Montedor: rapaz sem futuro, com um passado apenas de sonhos, arrastando-se num presente que é verdadeira morte lenta.
 
Mau grado a simplicidade das personagens e das cenas, há no romance uma tensão permanente, pode com verdade dizer-se que quase cada página encerra um momento dramático, ou antecipa uma tragédia, a qual, talvez porque raro chega a acontecer, cria um desespero cinzento, retratando bem, e cruamente, os medos e o sofrimento da sociedade portuguesa, passada e presente.
 
Publicado pela primeira vez em 1968, Montedor é o romance de estreia de J. Rentes de Carvalho, sobre o qual escreveu José Saramago: «O autor dá-nos o quase esquecido prazer de uma linguagem em que a simplicidade vai de par com a riqueza (…), uma linguagem que decide sugerir e propor, em vez de explicar e impor.»

Disponível na Traga-Mundos – livros e vinhos, coisas e loisas do Douro em Vila Real... | Traga-Mundos – lhibros i binos, cousas i lhoisas de l Douro an Bila Rial...
[também disponíveis as seguintes obras do autor: “Ernestina”, “O Rebate”, “Os Lindos Braços da Júlia da Farmácia”, “Mazagran”, “La Coca”, “A Amante Holandesa”, “Com os Holandeses”, “Tempo Contado”, “Mentiras & Diamantes”, “Portugal – A Flor e a Foice”]


Ao longo das gerações são sem conta as famílias portuguesas onde há alguém como o triste protagonista de Montedor: rapaz sem futuro, com um passado apenas de sonhos, arrastando-se num presente que é verdadeira morte lenta.

Mau grado a simplicidade das personagens e das cenas, há no romance uma tensão permanente, pode com verdade dizer-se que quase cada página encerra um momento dramático, ou antecipa uma tragédia, a qual, talvez porque raro chega a acontecer, cria um desespero cinzento, retratando bem, e cruamente, os medos e o sofrimento da sociedade portuguesa, passada e presente.

Publicado pela primeira vez em 1968, Montedor é o romance de estreia de J. Rentes de Carvalho, sobre o qual escreveu José Saramago: «O autor dá-nos o quase esquecido prazer de uma linguagem em que a simplicidade vai de par com a riqueza (…), uma linguagem que decide sugerir e propor, em vez de explicar e impor.»

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Agora e na Hora da Nossa Morte

                                                  Foto: “Agora e na Hora da Nossa Morte” de Susana Moreira Marques

Susana Moreira Marques viajou até às aldeias de Trás-os-Montes para encontrar pessoas com pouco tempo de vida, familiares em vigília e o vazio deixado pelos que morrem. Numa paisagem marcada por grandes distâncias, onde Portugal acaba e é esquecido, num tempo de fim e perante a nossa mortalidade, começamos a perceber o que é importante.

«Quando soube que não sobreviveria à doença e que não poderia continuar a caminhar no vasto campo em frente de sua casa, o caçador que gostava de flores pediu misericórdia, que o matassem depressa, por favor. Morreu numa cama sem dizer últimas palavras de significado e nesse dia nasceu no quintal um cachorro que nunca viria a ser cão de caça; foi então levado para um caixão e velado no centro da sua sala, os pássaros empalhados com as asas abertas olhando-o de cima do armário. Na varanda, com vista para a terra que tinha sido a sua maior alegria e que supunha ir gozar em pleno na velhice, tinha o vaso preferido que deu ainda flor na Primavera após a sua morte.»

«À pergunta “como escrever sobre a morte?”, Susana Moreira Marques (Porto, 1976) respondeu com um livro que rompe convenções. Não é uma reportagem, ou talvez seja, mas não nos moldes tradicionais onde a ortodoxia do jornalismo manda que o repórter se apague da história tanto quanto lhe seja possível. Isto é, o mais possível. A autora decidiu mostrar-se, incluir na narrativa as transformações que a inevitabilidade da morte do outro - estamos a falar de sentenciados à morte por doença - provocaram também nela. Foi um processo longo que lhe mudou o olhar e, no limite, as mãos. “Há coisas sobre as quais não se pode escrever como sempre se escreveu. Algo muda. Primeiro os olhos, depois o coração - ou os nervos ou aquilo a que os antigos chamavam alma - e, finalmente, as mãos.” É a confissão à entrada de Agora e na Hora da Nossa Morte, título pedido de empréstimo a um livro de poemas de José Agostinho Baptista para uma narrativa que não cabe em nenhum género definido da escrita.

De Junho a Outubro de 2011, em três viagens distintas (uma que corresponde à Primavera, com as cerejas; outra ao Verão, com as romarias de Agosto; e outra ao Outono, com o fim das colheitas), a jornalista e o fotógrafo André Cepeda foram até ao planalto transmontano acompanhar o quotidiano dos técnicos do projecto de cuidados paliativos ao domicílio da Fundação Calouste Gulbenkian. Andou por muitas aldeias, visitou muitas casas, falou com muita gente e escreveu sobre a morte como nunca se escreveu, tentando apanhar-lhe o tom, adequar-lhe a linguagem, dando-se tempo, libertando-se de lugares comuns, nunca cedendo à lamechice ou provocando a emoção fácil. Num exercício de uma enorme contenção e cuidada atenção ao outro, pouco adjectivo, evitando a quase sempre aborrecida descrição das técnicas de saúde prestadas (porto seguro para fintar a emoção), conta como é estar muito perto da morte sem que o leitor alguma vez sinta o incómodo de entrar num território que não é o dele e com a eficácia da grande literatura: uma enorme capacidade de acordar a emoção em quem lê.

O livro arranca com notas soltas, escrita fragmentada pontuada pelo silêncio, com o não-dito implícito, a pedir a intervenção do leitor, um aproximar ao tema a partir de conversas, da partilha cúmplice, dando conta do modo como ao longo do processo foram caindo convenções, de como a realidade não se compadece com a literatura - é por vezes muito mais feia, nada romântica nas transformações físicas e nas outras que a doença causa. Ela e eles sós ante a estranheza imensa, socorrendo-se de quem já experimentou representar a morte através das palavras. Tolstói, com A Morte de Ivan Ilitch, o homem que, agonizando, olha a vida e se arrepende do que não viveu ou do modo como viveu. E Torga, para a dureza de Trás-os-Montes, mas também poemas de Larkin, de Cecília Meireles, como se a poesia fosse mais eficaz com o transcendente, com a estranheza. Na segunda parte do livro, o ângulo aperta-se. Escolhem-se protagonistas, narrando-lhes a história e dando-lhes a voz da primeira pessoa. E não há intrusão quando Susana fala com Paula, mãe de Ana e de Luís, mulher de 40 anos que anda descalça na procissão à espera de um milagre, ou talvez não. Nem quando conversa com Elisa e Sara, as filhas de Rui, o homem que quer saber tudo da doença e prepara a própria morte. E nem por sombras há invasão do espaço onde moram João e Maria, o casal de octogenários que viveram em Angola mas regressaram quando todos abandonaram as colónias e agora se despedem um do outro a olhar a paisagem em frente. São os retratos. Paula. Elisa e Sara por causa de Rui. João e Maria por causa de João. E nós por eles.

São histórias exemplares entre as muitas que Susana encontrou e quis representar, porque uma das grandes questões é a de como representar a realidade que ninguém quer ver representada. Medo antigo. Ver a morte do outro é projectar a própria, e nessa projecção há a ideia de contágio. A morte como algo que se cola e de que se foge. Susana Moreira Marques não fugiu dela aqui, e comunicou com uma mediação poética que resulta de uma rara sensibilidade para tratar o eterno pasmo e o eterno pudor ante o momento mais íntimo, o da morte. “Onde está Ivan Ilitch? Onde está a agonia, como a escreveu Lev Tolstói? Onde estão os homens olhando para trás, para o momento em que se fizeram homens? Onde está o arrependimento e o perdão? E a satisfação, se a houve, dos anos felizes? Os doentes sofrem e parecem não ter forças para pensar, colocar-se questões morais - e já nem sequer parecem preocupados (é isto específico do nosso tempo?) com o paraíso, o inferno, o juízo final. Querem apenas um pouco mais de vida, querem um pouco mais de tempo para acreditar que o corpo vence; todos querem, com uma força desproporcionada, talvez delirante, continuar de olhos abertos.” Por fim, imagens. Os rostos, o lugar, a águia delimitando fronteiras mais do que geográficas e a narrativa a fugir à delimitação literária. É um livro que interpela, que magoa porque a realidade é mesmo assim, mas que nunca é coitado, não clama por piedade. Uma livro sem “rogai por nós”. Porque a morte não é boa nem é má. É. E Susana Moreira Marques escreve-a num livro de estreia como só os grandes escritores são capazes.» [Isabel Lucas, Público]

Disponível na Traga-Mundos – livros e vinhos, coisas e loisas do Douro em Vila Real... | Traga-Mundos – lhibros i binos, cousas i lhoisas de l Douro an Bila Rial...


Susana Moreira Marques viajou até às aldeias de Trás-os-Montes para encontrar pessoas com pouco tempo de vida, familiares em vigília e o vazio deixado pelos que morrem. Numa paisagem marcada por grandes distâncias, onde Portugal acaba e é esquecido, num tempo de fim e perante a nossa mortalidade, começamos a perceber o que é importante.

«Quando soube que não sobreviveria à doença e que não poderia continuar a caminhar no vasto campo em frente de sua casa, o caçador que gostava de flores pediu misericórdia, que o matassem depressa, por favor. Morreu numa cama sem dizer últimas palavras de significado e nesse dia nasceu no quintal um cachorro que nunca viria a ser cão de caça; foi então levado para um caixão e velado no centro da sua sala, os pássaros empalhados com as asas abertas olhando-o de cima do armário. Na varanda, com vista para a terra que tinha sido a sua maior alegria e que supunha ir gozar em pleno na velhice, tinha o vaso preferido que deu ainda flor na Primavera após a sua morte.»

«À pergunta “como escrever sobre a morte?”, Susana Moreira Marques (Porto, 1976) respondeu com um livro que rompe convenções. Não é uma reportagem, ou talvez seja, mas não nos moldes tradicionais onde a ortodoxia do jornalismo manda que o repórter se apague da história tanto quanto lhe seja possível. Isto é, o mais possível. A autora decidiu mostrar-se, incluir na narrativa as transformações que a inevitabilidade da morte do outro - estamos a falar de sentenciados à morte por doença - provocaram também nela. Foi um processo longo que lhe mudou o olhar e, no limite, as mãos. “Há coisas sobre as quais não se pode escrever como sempre se escreveu. Algo muda. Primeiro os olhos, depois o coração - ou os nervos ou aquilo a que os antigos chamavam alma - e, finalmente, as mãos.” É a confissão à entrada de Agora e na Hora da Nossa Morte, título pedido de empréstimo a um livro de poemas de José Agostinho Baptista para uma narrativa que não cabe em nenhum género definido da escrita.

De Junho a Outubro de 2011, em três viagens distintas (uma que corresponde à Primavera, com as cerejas; outra ao Verão, com as romarias de Agosto; e outra ao Outono, com o fim das colheitas), a jornalista e o fotógrafo André Cepeda foram até ao planalto transmontano acompanhar o quotidiano dos técnicos do projecto de cuidados paliativos ao domicílio da Fundação Calouste Gulbenkian. Andou por muitas aldeias, visitou muitas casas, falou com muita gente e escreveu sobre a morte como nunca se escreveu, tentando apanhar-lhe o tom, adequar-lhe a linguagem, dando-se tempo, libertando-se de lugares comuns, nunca cedendo à lamechice ou provocando a emoção fácil. Num exercício de uma enorme contenção e cuidada atenção ao outro, pouco adjectivo, evitando a quase sempre aborrecida descrição das técnicas de saúde prestadas (porto seguro para fintar a emoção), conta como é estar muito perto da morte sem que o leitor alguma vez sinta o incómodo de entrar num território que não é o dele e com a eficácia da grande literatura: uma enorme capacidade de acordar a emoção em quem lê.

O livro arranca com notas soltas, escrita fragmentada pontuada pelo silêncio, com o não-dito implícito, a pedir a intervenção do leitor, um aproximar ao tema a partir de conversas, da partilha cúmplice, dando conta do modo como ao longo do processo foram caindo convenções, de como a realidade não se compadece com a literatura - é por vezes muito mais feia, nada romântica nas transformações físicas e nas outras que a doença causa. Ela e eles sós ante a estranheza imensa, socorrendo-se de quem já experimentou representar a morte através das palavras. Tolstói, com A Morte de Ivan Ilitch, o homem que, agonizando, olha a vida e se arrepende do que não viveu ou do modo como viveu. E Torga, para a dureza de Trás-os-Montes, mas também poemas de Larkin, de Cecília Meireles, como se a poesia fosse mais eficaz com o transcendente, com a estranheza. Na segunda parte do livro, o ângulo aperta-se. Escolhem-se protagonistas, narrando-lhes a história e dando-lhes a voz da primeira pessoa. E não há intrusão quando Susana fala com Paula, mãe de Ana e de Luís, mulher de 40 anos que anda descalça na procissão à espera de um milagre, ou talvez não. Nem quando conversa com Elisa e Sara, as filhas de Rui, o homem que quer saber tudo da doença e prepara a própria morte. E nem por sombras há invasão do espaço onde moram João e Maria, o casal de octogenários que viveram em Angola mas regressaram quando todos abandonaram as colónias e agora se despedem um do outro a olhar a paisagem em frente. São os retratos. Paula. Elisa e Sara por causa de Rui. João e Maria por causa de João. E nós por eles.

São histórias exemplares entre as muitas que Susana encontrou e quis representar, porque uma das grandes questões é a de como representar a realidade que ninguém quer ver representada. Medo antigo. Ver a morte do outro é projectar a própria, e nessa projecção há a ideia de contágio. A morte como algo que se cola e de que se foge. Susana Moreira Marques não fugiu dela aqui, e comunicou com uma mediação poética que resulta de uma rara sensibilidade para tratar o eterno pasmo e o eterno pudor ante o momento mais íntimo, o da morte. “Onde está Ivan Ilitch? Onde está a agonia, como a escreveu Lev Tolstói? Onde estão os homens olhando para trás, para o momento em que se fizeram homens? Onde está o arrependimento e o perdão? E a satisfação, se a houve, dos anos felizes? Os doentes sofrem e parecem não ter forças para pensar, colocar-se questões morais - e já nem sequer parecem preocupados (é isto específico do nosso tempo?) com o paraíso, o inferno, o juízo final. Querem apenas um pouco mais de vida, querem um pouco mais de tempo para acreditar que o corpo vence; todos querem, com uma força desproporcionada, talvez delirante, continuar de olhos abertos.” Por fim, imagens. Os rostos, o lugar, a águia delimitando fronteiras mais do que geográficas e a narrativa a fugir à delimitação literária. É um livro que interpela, que magoa porque a realidade é mesmo assim, mas que nunca é coitado, não clama por piedade. Uma livro sem “rogai por nós”. Porque a morte não é boa nem é má. É. E Susana Moreira Marques escreve-a num livro de estreia como só os grandes escritores são capazes.» [Isabel Lucas, Público]

segunda-feira, 20 de outubro de 2014

ANTROPOLOGIA DA COMUNICAÇÃO

«ANTROPOLOGIA DA COMUNICAÇÃO é um precioso manual de consulta para diferentes disciplinas; o autor soube reunir algumas jóias da oralidade do povo do nordeste transmontano e remeteu-as a preceito para os territórios da Antropologia»

Beja Santos 
(“O imaginário fabuloso do nordeste transmontano”, 
Jornal “O Ribatejo)
                                  Foto: «ANTROPOLOGIA DA COMUNICAÇÃO é um precioso manual de consulta para diferentes disciplinas; o autor soube reunir algumas jóias da oralidade do povo do nordeste transmontano e remeteu-as a preceito para os territórios da Antropologia»

Beja Santos 
(“O imaginário fabuloso do nordeste transmontano”, 
Jornal “O Ribatejo)

http://www.wook.pt/ficha/antropologia-da-comunicacao/a/id/12878125

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

terça-feira, 30 de setembro de 2014

Ardínia, a moura que morreu por amor - Alexandre Parafita, ilustrações - Ana Lúcia Pinto

Esta é uma das lendas mais belas da Região do Douro. Ardínia é, de resto, uma das figuras lendárias que melhor representa o imaginário popular. Usando como trunfos a sedução, a beleza e a ousadia, Ardínia transformou a sua história de amor - impossível - numa mensagem intemporal de união, diálogo e tolerância.

Uma mensagem que ecoa nas paisagens durienses como um apelo mágico e um verdadeiro guião para os destinos que o Douro ainda hoje procura cumprir.

Ardínia e Tedo eram de culturas e credos diferentes, o que não os impedia de gostarem um do outro. O pai de Ardínia que se oponha a esse amor fez tudo para separar Tedo da sua filha. Será que o conseguiu? E de que maneira…

                                           Foto: “Ardínia, a moura que morreu por amor” texto - Alexandre Parafita, ilustrações - Ana Lúcia Pinto 

Esta é uma das lendas mais belas da Região do Douro. Ardínia é, de resto, uma das figuras lendárias que melhor representa o imaginário popular. Usando como trunfos a sedução, a beleza e a ousadia, Ardínia transformou a sua história de amor - impossível - numa mensagem intemporal de união, diálogo e tolerância. 

Uma mensagem que ecoa nas paisagens durienses como um apelo mágico e um verdadeiro guião para os destinos que o Douro ainda hoje procura cumprir.

Ardínia e Tedo eram de culturas e credos diferentes, o que não os impedia de gostarem um do outro. O pai de Ardínia que se oponha a esse amor fez tudo para separar Tedo da sua filha. Será que o conseguiu? E de que maneira…

Disponível na Traga-Mundos – livros e vinhos, coisas e loisas do Douro em Vila Real... | Traga-Mundos – lhibros i binos, cousas i lhoisas de l Douro an Bila Rial...
[disponível também do autor os seguintes títulos: "Histórias de Natal contadas em verso" ilustrações Bruno Pereira, "Branca Flor, o príncipe e o demónio" ilustrou Pedro Morais, "Vou Morar No Arco-Íris" ilustrações de Pedro Pires, "Balada das Sete Fadas" ilustrações de Miguel Gabriel, "As Três Touquinhas Brancas" ilustrações de Jorge Miguel, “Diabos, diabritos e outros mafarricos”, ilustração Fátima Buco, “Bruxas, feiticeiras e suas maroteiras” ilustração Fátima Buco, “Lobos, Raposas, Leões e outros figurões” ilustrações de Alberto Faria, “O Tesouro dos Maruxinhos – Mitos e lendas para os mais novos” ilustrações Miguel Gabriel, "Contos de Animais com Manhas de Gente" ilustrações de Eunice Rosado, A Mala Vazia e algumas histórias de tradição oral” ilustrações de Pedro Serapicos, “Magalhães nos olhos de um menino” de Alexandre Parafita e Simone de Fátima Gonçalves, ilustrações de Rui Pedro Lourenço; “Antropologia da Comunicação – ritos, mitos, mitologias”, "Património Imaterial do Douro” - Vol. I e Vol. II", "Os Provérbios e a Cultura Popular", "A Mitologia dos Mouros", "Antologia de Contos Populares" Vol. II, "O Maravilhoso Popular", "A Comunicação e Literatura Popular"; “A Máscara do Demo”]

sábado, 20 de setembro de 2014

                       





                                        Foto: “O Seringador T” reportório crítico-jocoso e prognóstico diário para 2015
(e 150.º ano da sua publicação)
1865-2015
fundado por João Manuel Fernandes de Magalhães

2
É seringando que ensino
Como se planta o pepino
Os tomates e a beringela,
Pois em qualquer estação
Para haver boa produção
É com a minha seringadela.

Almanaque de grande tradição, muito ligado à agricultura e à astrologia na sua vertente relativa às condições climáticas relevantes para as actividades humanas. Muito completo na elencagem das feiras e mercados do país, bem como nas datas associadas a eventos de utilidade  pública. Em jeito de editorial, apresenta o "Juizo do Ano" e termina com o espaço habitual de entrevista bem humorada. De realçar a importância dada à dita "Cultura", com um espaço de poesia logo na capa.
À venda nas boas livrarias [Coisas Avulso]

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“O Seringador T” reportório crítico-jocoso e prognóstico diário para 2015
(e 150.º ano da sua publicação)
1865-2015
fundado por João Manuel Fernandes de Magalhães

2
É seringando que ensino
Como se planta o pepino
Os tomates e a beringela,
Pois em qualquer estação
Para haver boa produção
É com a minha seringadela.

Almanaque de grande tradição, muito ligado à agricultura e à astrologia na sua vertente relativa às condições climáticas relevantes para as actividades humanas. Muito completo na elencagem das feiras e mercados do país, bem como nas datas associadas a eventos de utilidade pública. Em jeito de editorial, apresenta o "Juizo do Ano" e termina com o espaço habitual de entrevista bem humorada. De realçar a importância dada à dita "Cultura", com um espaço de poesia logo na capa.
À venda nas boas livrarias [Coisas Avulso]

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sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Terra Fria Terra Quente

«Maria José Corrêa Pinto ter-se-á inspirado, sem dúvida, nas suas recordações de outrora (a capa mostra uma família, a sua decerto, a sugerir esse reencontro com o passado).
Tem feito em Cascais a sua vida profissional (exerceu as funções de conservadora do Museu-Biblioteca dos Condes de Castro Guimarães), mas – tal como tantos outros que, em meados do século passado, demandaram estas paragens – Maria José Corrêa Pinto auscultou agora – e acarinhou – esse eco de um antigo viver. E só quem não conhece Trás-os-Montes, as suas gentes hospitaleiras de antes quebrar que torcer, as suas solitárias paisagens (ah! os verdejantes lameiros, os soutos em flor, o crocitar dos corvos, a impertinente algazarra dos estorninhos logo pela manhã…), só quem lá alguma vez não viveu é que pode admirar-se de que possa falar-se com propriedade de um “génio transmontano”!
Dessa epopeia, ainda que familiar, tratará o livro. Tenho de o ler!» José d’Encarnação, blogue Notas & Comentários

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Foto: “Terra Fria Terra Quente” de Maria José Corrêa Pinto

«Maria José Corrêa Pinto ter-se-á inspirado, sem dúvida, nas suas recordações de outrora (a capa mostra uma família, a sua decerto, a sugerir esse reencontro com o passado).
Tem feito em Cascais a sua vida profissional (exerceu as funções de conservadora do Museu-Biblioteca dos Condes de Castro Guimarães), mas – tal como tantos outros que, em meados do século passado, demandaram estas paragens – Maria José Corrêa Pinto auscultou agora – e acarinhou – esse eco de um antigo viver. E só quem não conhece Trás-os-Montes, as suas gentes hospitaleiras de antes quebrar que torcer, as suas solitárias paisagens (ah! os verdejantes lameiros, os soutos em flor, o crocitar dos corvos, a impertinente algazarra dos estorninhos logo pela manhã…), só quem lá alguma vez não viveu é que pode admirar-se de que possa falar-se com propriedade de um “génio transmontano”!
Dessa epopeia, ainda que familiar, tratará o livro. Tenho de o ler!» José d’Encarnação, blogue Notas & Comentários

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quinta-feira, 17 de julho de 2014

Paraíso Revisitado – Roteiro Poético Alfacinha e Duriense

                             Foto: “Paraíso Revisitado – Roteiro Poético Alfacinha e Duriense” de José Eduardo Rodrigues

«José Eduardo Rodrigues é pseudónimo de José Alves Ribeiro, engenheiro agrónomo e professor emérito da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro. 
Como o próprio título e subtítulo indicam, trata-se de um conjunto de poemas em que o Autor revisita lugares onde viveu e de algum modo o marcaram. Poesia eufónica, tem no intenso envolvimento emocional do Autor as suas melhores credenciais.» [Grémio Literário Vila-Realense]

LIBELINHA

Libelinha breve,
luzindo elegância,
revolteia incerta,
é um cibinho, um cisco,
um papel de lustro,
é uma transparência,
é uma chôina viva,
cintila na prata
de água cristalina,
jogando escondidas
na verde cortina
da folhagem fresca,
faísca na tarde
estremecendo a sesta...
rodopia e segue,
vai num corrupio,
na curva do rio
perdia-a de vista...

Amieiral – Rio Pinhão – Agosto de 1994

«A Dr.ª Hercília Agarez, estudiosa dos escritores durienses, começou a sua intervenção afirmando que “O Douro nunca sacia as pessoas que estão sedentas”, referindo-se à beleza e ao encanto das paisagens desta região. Este foi o mote para identificar José Eduardo Rodrigues como mais um poeta que “canta” o Douro, afirmando que este se aproxima ao registo poético de Miguel Torga O autor, visivelmente emocionado por esta recepção na sua terra natal, referiu que este livro é um diário em verso das suas vivências. É também uma homenagem ao Douro sofrido, ao homem e à mulher duriense que construíram os socalcos e a paisagem mundialmente reconhecida.» [Município de Alijó]

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[também disponível do autor os títulos: “Plantas Aromáticas em Portugal – caracterização e utilizações” de A. Proença da Cunha, José Alves Ribeiro, Odete Rodrigues Roque, “Viver e saber fazer. Tecnologias tradicionais na Região do Douro. Estudos preliminares” vários, “Plantas e Saberes – No Limiar da Etnobotânica em Portugal” vários]

«José Eduardo Rodrigues é pseudónimo de José Alves Ribeiro, engenheiro agrónomo e professor emérito da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro.
Como o próprio título e subtítulo indicam, trata-se de um conjunto de poemas em que o Autor revisita lugares onde viveu e de algum modo o marcaram. Poesia eufónica, tem no intenso envolvimento emocional do Autor as suas melhores credenciais.» [Grémio Literário Vila-Realense]

LIBELINHA

Libelinha breve,
luzindo elegância,
revolteia incerta,
é um cibinho, um cisco,
um papel de lustro,
é uma transparência,
é uma chôina viva,
cintila na prata
de água cristalina,
jogando escondidas
na verde cortina
da folhagem fresca,
faísca na tarde
estremecendo a sesta...
rodopia e segue,
vai num corrupio,
na curva do rio
perdia-a de vista...

Amieiral – Rio Pinhão – Agosto de 1994

«A Dr.ª Hercília Agarez, estudiosa dos escritores durienses, começou a sua intervenção afirmando que “O Douro nunca sacia as pessoas que estão sedentas”, referindo-se à beleza e ao encanto das paisagens desta região. Este foi o mote para identificar José Eduardo Rodrigues como mais um poeta que “canta” o Douro, afirmando que este se aproxima ao registo poético de Miguel Torga O autor, visivelmente emocionado por esta recepção na sua terra natal, referiu que este livro é um diário em verso das suas vivências. É também uma homenagem ao Douro sofrido, ao homem e à mulher duriense que construíram os socalcos e a paisagem mundialmente reconhecida.» [Município de Alijó]

quarta-feira, 9 de julho de 2014


                            


– Mas, então, se não é da Pampilhosa, de onde é?
– De Vila Real.
– O quê? É transmontana? – Luís fez um sorriso de orelha a orelha.
– Sou, mas porquê? – pergunta ela, não percebendo a razão de tamanho júbilo.
– Porque eu também sou transmontano. De Torre de Moncorvo.
– Não me diga! Tenho lá um primo de meus pais.
– Quem?
– O António Monteiro.
 – O Monteiro? O engenheiro agrónomo, presidente da Cegtad?
– Sim, é engenheiro, o resto é que já não sei…
– Ah, mas sei eu. É  um amigo de peito.
– E o que é isso da Cegtad?
– Confraria de Enófilos e Gastrónomos de Trás-os-Montes e Alto Douro.
– Nunca ouvi falar dela aos meus pais.
– Não é do tempo dos seus pais. Foi fundada há dezassete anos, em 1995.
− E tenho lá também um parente numa aldeia com um nome muito engraçado − Peredo dos Castelhanos. É um jornalista muito conhecido que vive em Lisboa.
−  Não me diga que é o Rogério Rodrigues!
− Esse mesmo.
− Um grande senhor do jornalismo, o Rogério.
− E também poeta e dos melhores. − Mas isto são muitas surpresas para um só dia! Havemos de ir jantar com o Rogério ao Solar dos Presuntos.

Sinopse: A Mulher que Venceu Don Juan inclui no entrecho ficcional três personagens de fundo donjuanesco. Amaro Fróis, cirurgião plástico, procura nas mulheres a vingança de um passado tenebroso; Manaças, serial lover, recalca uma pulsão proibida; Joana colecciona os namorados das amigas.

Os três serão vencidos: o primeiro por uma mulher que subestimou; o segundo pelo verdadeiro objecto do desejo recalcado; a terceira por uma presidiária, cujo companheiro seduziu. A protagonista, Sara Dornelas, escapa à morte e encontra o amor, realizando, pelo estudo, um sonho antigo. Dois seres de eleição, a psicóloga Lúcia e Paulo, comissário da polícia, assumem um papel decisivo no desmantelamento de uma rede tentacular e no castigo dos criminosos, unidos por ignorados laços de sangue.
Travejada por diálogos vivos, ora dramáticos ora humorísticos, a acção decorre em múltiplos lugares, potenciando o efeito de real pela intrusão de figuras verídicas que interagem com as personagens ficcionais. Entretanto, Manuela, jovem doutoranda, prima de Doña Juana, prepara em Copenhaga, e defende com sucesso, uma tese sobre o Diário do Sedutor de Kierkegaard, duplicando, no plano teórico, os meandros do desejo, no plano da acção, e gerando uma atmosfera de suspense até ao último fio da intriga romanesca.

Teresa Martins Marques é doutorada em Literatura e Cultura Portuguesas, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Actualmente, investigadora no CLEPUL e, entre 1992-1995, no Instituto de Lexicologia e Lexicografia da Academia das Ciências de Lisboa.
Dirigiu a equipa de organização do Espólio Literário de David Mourão-Ferreira (Fundação Calouste Gulbenkian / Ministério da Educação, entre 1997-2004). Dirigiu e prefaciou a Edição das Obras Completas (13 volumes) de José Rodrigues Miguéis (Círculo de Leitores, 1994-1996).
Publicações de ensaio: colaboração em três dezenas de volumes colectivos.
Livros: Si On Parle du Silence de la Mer (1985); O Eu em Régio: A Dicotomia de Logos e Eros (Prémio de Ensaio José Régio -1989), 1.ª ed. 1993; 2.ª ed. 1994; O Imaginário de Lisboa na Ficção Narrativa de José Rodrigues Miguéis – 1.ª ed. 1994; 3.ª ed. 1997Leituras Poliédricas (estudos sobre Cesário Verde, Gomes Leal, Raul Brandão, J. Régio, José R. Miguéis, V. Nemésio, Eugénio Lisboa et alii) – 2002; Clave de Sol – Chave de Sombra. Memória e Inquietude em David Mourão-Ferreira (2011); Ficção: Carioca de Café (conto) – 2009; A Mulher que Venceu Don Juan – primeiro romance-folhetim português publicado no Facebook (2012- 2013), sendo a presente uma nova versão, revista e aumentada.

                                                                  ----------------

«Chegado ao fim este excelente romance, não temos dúvidas em dizer qual foi A Mulher que Venceu Don Juan: Teresa Martins Marques.
Não falhou uma única semana e foi tendo um diálogo com os cada vez mais numerosos e entusiasmados leitores, ouvindo-os, ‘provocando-os’, estimulando-os e deixando-se envolver de modo muito próximo; e venceu o preconceito do FB mostrando como este meio de divulgação pode ser excelentemente aproveitado.
Encheu o folhetim com excesso de realidade, não por ter lá colocado o nome de muitos leitores, entre os quais me incluo, não; o excesso de realidade consiste em ter enfrentado problemas que são cancros de hoje, como a violência, quer doméstica [com a divulgação da APAV e do seu trabalho] quer de uma sociedade que muito assenta no sofrimento infligido aos mais fracos sob diversas formas; o excesso de realidade mostrando como o crime mais hediondo não escolhe classes, antes se acoita entre psicopatas que podem ocupar o expoente da nossa sociedade; o excesso de realidade de que existe uma sociedade solidária, que não desiste, que não cede às maiores dificuldades, que persiste muitas vezes para além do suportável e encarnando em pessoas que só na aparência são fracas; o excesso de realidade de que o amor é tão vário que pode exigir a separação quando do convívio só resulta dor; o excesso de realidade de que o donjuanismo é afinal a camuflagem do seu contrário, que se reprime.
Tudo isto foi servido numa linguagem simples e rigorosa, com grande respeito pelos leitores, na imensa cultura em que assenta, num ritmo que prendeu ao longo de muitas semanas, sem medo de apresentar reflexões profundas e originais sobre diversos temas sem nunca ser cansativa, em particular sobre Kierkegaard, e com muito humor à mistura. Não posso deixar de dizer algo que me é muito querido: é um folhetim que trata o mirandês com o respeito devido a uma língua milenar e ao povo que a fala, que o divulga e dá a conhecer, o que é a primeira vez que acontece numa obra literária.» Amadeu Ferreira [Comentário no Facebook]


domingo, 6 de julho de 2014

Dicionário de Ditados (Provérbios) e frases feitas

- Para cada ocasião tenha um provérbio sempre à mão
- Água mole em pedra dura tanto dá até que fura
- Ao menino e ao borracho põe-lhe Deus a mão por baixo
- Casa de ferreiro espeto de pau
- O que os olhos não vêem o coração não sente
- Para grandes males, grandes remédios
- A mulher e a sardinha quer-se da mais maneirinha
- Fia-te na virgem e não corras...

   Para que não se percam saberes ancestrais com valores e significados sempre actualizados do ponto de vista da nossa língua, tanto na forma como no conteúdo, a autora reuniu nesta obra aproximadamente 24.000 ditados dispostos por ordem alfabética. Frases que sintaxicamente encerram verdadeiras lições de filosofia adaptadas às circunstâncias da nossa vivência diária, em que cada um poderá rever conceitos de sabedoria popular e erudita. (José Branquinho)

                              

sexta-feira, 4 de julho de 2014

Contas que a minha mãe me contava...

                              Foto: “Contas que a minha mãe me contava...” de Antonio Cangueiro, ilustrações de Sara Cangueiro

Esta obra regista um conjunto de contos e orações que António Cangueiro ouvia da mãe, Maria Joaquina Garcia, na infância, preservando o património oral da família e da comunidade. De origens humildes, o autor, pais e irmãos viviam com poucos recursos, numa casa pequena, «mas morava lá muito riso e alegria. Cantava-se e contavam-se muitas histórias.» São essas recordações, esse património imaterial, que o autor reúne neste livro: «Tantas vezes me estribei nestas histórias para viajar na minha imaginação... Viajei no mar que nunca tinha visto e que mais tarde experimentei de profissão, marinheiro fui, e senti o furor das suas ondas. História onde apurei os sentidos para a humanização ou malvadez da condição humana. […] Rezar era conversar com quem te suavizava as agruras da vida e Deus acalmava os teus medos e tuas ansiedades. As trovoadas amedrontavam-te e logo ouvido o primeiro trovão ou visto o primeiro relistro, a candeia do azeite acendias, o postigo quase cerravas para a luz não entrar com tanta vontade, ajoelhavas-te e começavas a rezar: “Santa Bárbara Bendita que no céu está escrita…”»

António Cangueiro nasceu a 30 Abril de1957, na freguesia de Bemposta, concelho de Mogadouro, onde viveu até aos 21 anos.
Em 1978 é incorporado na Marinha de Guerra Portuguesa. Cumpre o serviço militar obrigatório de 2 anos na especialidade de comunicações. Em 1981, após frequentar o Curso Complementar de Comunicações, ingressa nos Quadros Permanentes da Marinha. Prestou serviço em várias unidades em terra e navais. Mantém-se ao serviço até 2003.
Em 2005, licenciou-se em Controlo Financeiro pelo ISCAL – Instituto Superior de Contabilidade e Administração de Lisboa.
Traduziu, em colaboração, da língua mirandesa para português, a obra poética de Fracisco Niebro “Ars Vivendi Ars Moriendi” e, de português para mirandês, o álbum de banda desenhada de José Ruy “João de Deus – A Magia das Letras”.

Maria Joaquina Garcia, doméstica, nasceu a 4 de Março de 1925, na freguesia de Bemposta, concelho de Mogadouro, filha de Carlos Garcia e Teresa Benito Montes.
Casou a 14 de Setembro de 1946 com José Cangueiro, sapateiro.
Tiveram três filhos, Francisco, António e Emília.

Disponível na Traga-Mundos – livros e vinhos, coisas e loisas do Douro em Vila Real... | Traga-Mundos – lhibros i binos, cousas i lhoisas de l Douro an Bila Rial...

Esta obra regista um conjunto de contos e orações que António Cangueiro ouvia da mãe, Maria Joaquina Garcia, na infância, preservando o património oral da família e da comunidade. De origens humildes, o autor, pais e irmãos viviam com poucos recursos, numa casa pequena, «mas morava lá muito riso e alegria. Cantava-se e contavam-se muitas histórias.» São essas recordações, esse património imaterial, que o autor reúne neste livro: «Tantas vezes me estribei nestas histórias para viajar na minha imaginação... Viajei no mar que nunca tinha visto e que mais tarde experimentei de profissão, marinheiro fui, e senti o furor das suas ondas. História onde apurei os sentidos para a humanização ou malvadez da condição humana. […] Rezar era conversar com quem te suavizava as agruras da vida e Deus acalmava os teus medos e tuas ansiedades. As trovoadas amedrontavam-te e logo ouvido o primeiro trovão ou visto o primeiro relistro, a candeia do azeite acendias, o postigo quase cerravas para a luz não entrar com tanta vontade, ajoelhavas-te e começavas a rezar: “Santa Bárbara Bendita que no céu está escrita…”»

sexta-feira, 27 de junho de 2014

Sábado, 28 de junho

Terça-feira, 1 de julho

Hoje, na Covilhã

                     

Hoje, na Guarda

Hoje, em Évora

A obra, de António Martins Quaresma, será lançada no âmbito de uma homenagem da Direcção Regional de Cultura do Alentejo ao autor, que será apresentado por Cláudio Torres.
A apresentação da obra ficará a cargo de João Carlos Garcia, professor da Universidade do Porto, e Álvaro Garrido, professor da Universidade de Coimbra, explicará as razões da integração da obra na colecção "Novos Mares", da Âncora Editora.


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quinta-feira, 12 de junho de 2014

segunda-feira, 9 de junho de 2014

OS SERÕES E AS CONVERSAS NA CASA DO TIO ZÉ MADRUGA, por Judite do Céu



   "UM LIVRO DO POVO PARA O POVO"
Coube aos escritores do nosso Romantismo, em meados do séc. XIX, o mérito de terem sido os primeiros a atentar nos tesouros do romanceiro português. Entre eles, Almeida Garret foi incansável na defesa do "grande livro nacional que é o povo e as suas tradições". Um século mais tarde, Jorge Dias salientou a obrigação de salvar tudo aquilo que ainda é susceptível de ser salvo, "para que os nossos netos, embora vivendo num Portugal diferente do nosso, sejam capazes de manter as suas raízes culturais mergulhadas na herança social que o passado nos legou". Hoje, nos alvores de um novo milénio que consubstancia as miragens do "admirável mundo novo" (Aldous Huxley), cabe-nos a ingente tarefa de preservar todo um repositório da cultural popular, sob risco de deixarmos naufragar a arca de Noé das nossas tradições ancestrais. Trata-se de uma herança a legar aos vindouros, nem que seja para assinalar um tempo em que as marcas da identidade popular e regional continham uma visão do mundo que entretanto se esboroou. De facto, a tradição oral, o folclore e os costumes enraizados constituem-se em função de uma visão formulada e partir de um lugar e de uma esfera sócio cultural, o que configura uma identidade própria na relação com os outros, o real e o transcendente. Estamos assim no plano de um património imaterial onde é possível captar, em representações cénicas mais ou menos simuladas, a alma do povo que se procura retratar.
O livro de Judite do Céu Os Serões e as Conversas na Casa do Tio Zé Madruga - Memórias de um passado recente insere-se neste quadro conceptual. Ao reconstituir um espaço onde desfilam encenações várias alusivas aos costumes e à cultura das gentes fozcoenses, a autora optou por conservar a genuinidade das falas, associando-a à autenticidade de uma forma de relacionamento social, protagonizada por personagens reais. 

Assistimos assim a uma representação ao vivo, em que as personagens e os acontecimentos nos remetem para um "passado recente", embora já distanciado da nossa contemporaneidade. Exactamente por isso, este livro assinala uma viragem de culturas, contribuindo cada encenação para avivar o álbum de memórias da história do quotidiano em terras de Foz Côa. O aspecto mais marcante desses quadros é o da linguagem. De imediato damos conta da notação do registo fónico, que individualiza o falar popular e regional da região. Estamos perante fenómenos linguísticos que derivam da transcrição da oralidade, sem filtros nem restauros linguísticos. Por outro lado, como uma análise filológica, semântica e estilística poderia mostrar, certos registos vocabulares correspondem a realidades concretas, devendo por isso ser mantida a dimensão vocabular e a construção sintáctica, aceites como variedade dialectal. O estranhamento inicial perante a abundância das transcrições fónicas - sobretudo por parte de uma população mais letrada ou distanciada da realidade subjacente - é compreensível. Contudo, de forma intencional, a autora pretendeu que esses vocábulos de grafia "deturpada" (por isso em itálico) encontrassem, na sua exteriorização grafemática, a correspondência com a transposição da fala, tal como se pronuncia(va) na zona onde, digamos, decorre a acção. Neste propósito, Judite do Céu pode fazer-se acompanhar de conhecidos escritores, os quais, embora de forma menos recorrente, procuraram reconstituir nas suas narrativas a linguagem falada pelo povo. Entre outros, exemplifico com Hugo Rocha, Nuno de Montemor, Virgílio Godinho, ou, noutro patamar, Aquilino Ribeiro. Quando este último propugnava um "regresso às origens", valorizava precisamente o falar genuíno e defendia, na vertente da literatura regionalista, que o idioma se encontrava puro na aldeia, ou seja. no meio rural. Mas nesta matéria de incidência linguística, teriamos de destrinçar o plano estritamente lexical do plano fónico. E neste, seria interessante explicara evolução dos diferentes registos. classificados pelos especialistas com designações específicas como assimilação/ dissimilação, prótese. metátese. epêntese, aférese, etc. Noutro plano, importa valorizar a dimensão cultural deste conjunto de narrativas. Desde a identificação de locais da nossa geografia sentimental, passando pela referência a topónimos associados a um imaginário colectivo (sejam eles lugares de culto, de festa ou de folia): desde a captação da vivência da religiosidade popular à alusão a cenários telúricos, em que "a cultura da terra" marca o ciclo das colheitas e acentua a dureza, mas também a alacridade, dos trabalhos agrícolas; desde a descrição de actividades profissionais, onde se aprende algo sobre o mister de cada artífice, com seus "pesos e medidas"; desde a genuína "cultura gatronómica" aos rituais entretanto caídos em desuso; desde a caracterização de passatempos e desportos populares ao modo de assinalar acontecimentos no calendário concelhio (o convívio dos "setembristas", por exemplo), até, enfim, à versão antecipada da descoberta das gravuras rupestres -tudo isso vamos retendo na leveza do ritmo narrativo, acompanhado por descrições com pinceladas de humor prazenteiro. Depois, uma análise mais atenta dos textos pode conduzir o leitor à abordagem de aspectos mais profundos, de repercussões sociais e ideológicas, manifestadas em questões de índole social, como sejam o relacionamento parental e interpessoal, os acordos mercantis e salariais, os índices de natalidade ou de emigração, as superstições e as crenças, a valia da sabedoria proverbial. etc. Sendo assim, vista a cultura popular como espelho do quotidiano de terras e gentes, ela possibilita não apenas o conhecimento da História, mas também a transmissão de particularidades de natureza ..antropológica, psicológica e sociológica que importa conhecer e estudar. Honrado com o convite para prefaciar esta colectânea de memórias", proponho, como "filho da terra", uma incursão pelas histórias desse passado, mais próximo, como se compreende, da geraçãode meus pais. Mas o livro. como é intenção da autora, há-de "chegar a todos os recantos onde exista um fozcoense". E serão estes a passar a palavra. porque através da sua leitura partilham recantos da memória rediviva. Felicito, pois, a autora por este empreendimento. Neste caso, como noutros projectos, bem andam as entidades locais quando desafiam a criatividade cultural e preservam a memória colectiva. Não há cultura sem tradição. E as terras de Foz Côa, presentes na galeria do "património mundial", merecem encontrar arautos a pugnar pela divulgação dos seus pergaminhos históricos.

Henrique Almeida (Professor da Universidade Católica de Viseu)

segunda-feira, 2 de junho de 2014

                                        Foto: “Entre Quem É! – Tradições de Trás-os-Montes e Alto Douro no Diário de Miguel Torga” de Maria da Assunção Anes Morais

Um importante livro que abarca dois aspectos fundamentais e de interesse geral: por um lado, foca tradições específicas da região transmontana, algumas das quais em vias de extinção como, por exemplo, a chega de bois, a vezeira, o forno comunitário, o auto da paixão, a matança, as malhadas; por outro, todo o estudo, levantamento, análise e problematização tem por base os dezasseis diários torguianos. 

“Entre Quem É! Tradições de Trás-os-Montes e Alto Douro no Diário de Miguel Torga” reflecte dois gostos de índole pessoal da autora: por um lado, a admiração pela escrita de Miguel Torga e, por outro lado, o carinho pelas raízes que nos ligam a esta região e a tudo o que lhe diz respeito.
É um trabalho de cariz científico que se encontra dividido em três grandes capítulos intitulados: “Diário e o Diário de Miguel Torga”; as “Tradições de Trás-os-Montes e Alto Douro no Diário Torguiano”; e “O Diário e a obra de Torga nas aulas de Português”.

«o estudo de Maria da Assunção Anes Morais (...) constitui apreciável contributo para o aprofundamento de um dos vectores mais importantes na obra de Miguel Torga (...). Percorrem-se atentamente as centenas de páginas da obra do escritor transmontano e, a partir da sistematização das oportunas e abundantes ocorrências, consideram-se com pertinência e muito cuidado os costumes, as crenças, as festas, as romarias, as composições orais tradicionais (canto das malhas, teatro popular, lendas), tudo quanto, nesse "reino maravilhoso" impressionou o saber e a sensibilidade do médico e escritor, mas, poder-se-á acrescentar, de um muito atento observador de vocação etnográfica, com curiosidade de antropólogo (...)» Prof. Doutor João David Pinto Correia, Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e do Centro de Tradições Populares Portuguesas

Maria da Assunção Anes Morais – Natural de Chaves, as suas raízes, bem profundas em terras transmontanas e barrosas, são razão suficiente para justificar o seu amor à terra e ao que de mais genuíno se pode encontrar nessas paragens.
Licenciou-se em Humanidades na Faculdade de Filosofia de Braga- Universidade Católica Portuguesa. Estagiou na Escola Secundária/3 Sá de Miranda, em Braga e tornou-se Professora de Português e de Latim.
A paixão pela língua portuguesa e pela literatura leva-a a matricular-se no Mestrado em Ensino da Língua e Literatura Portuguesas, na Universidade de Trás-os- Montes e Alto Douro, que concluiu com uma dissertação no estudo da Obra de Miguel Torga e das tradições da sua região.

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[recordamos que temos o compromisso de sempre disponibilizar a obra completa de Miguel Torga: poesias, diários, teatro, contos, romance, ensaios e discursos; também os títulos “Dar Mundos Ao Coração – Estudos sobre Miguel Torga” organização de Carlos Mendes de Sousa, “Miguel Torga – o simbolismo do espaço telúrico e humanista nos Contos” de Vítor José Gomes Lousada, “Miguel Torga – A Força das Raízes (Um itinerário transmontano)” e “Dois Homens num só Rosto – Temas Torguianos” de M. Hercília Agarez, “O essencial sobre Miguel Torga” de Isabel Vaz Ponce de Leão, “Uma longa viagem com Miguel Torga” de João Céu e Silva, “Miguel Torga: O Lavrador das Letras – Um Percurso Partilhado” de Cristovão de Aguiar, “A Viagem de Miguel Torga” de Isabel Maria Fidalgo Mateus, “Miguel Torga – o drama de existir” de Armindo Augusto, “Ser e Ler Miguel Torga” de Fernão de Magalhães Gonçalves; também os álbuns de Graça Morais (“Um Reino Maravilhoso”) e de José Manuel Rodrigues (“Portugal”); “O meu primeiro Miguel Torga” escreveu João Pedro Mésseder, Inês Oliveira ilustrou]

Um importante livro que abarca dois aspectos fundamentais e de interesse geral: por um lado, foca tradições específicas da região transmontana, algumas das quais em vias de extinção como, por exemplo, a chega de bois, a vezeira, o forno comunitário, o auto da paixão, a matança, as malhadas; por outro, todo o estudo, levantamento, análise e problematização tem por base os dezasseis diários torguianos. 

“Entre Quem É! Tradições de Trás-os-Montes e Alto Douro no Diário de Miguel Torga” reflecte dois gostos de índole pessoal da autora: por um lado, a admiração pela escrita de Miguel Torga e, por outro lado, o carinho pelas raízes que nos ligam a esta região e a tudo o que lhe diz respeito.
É um trabalho de cariz científico que se encontra dividido em três grandes capítulos intitulados: “Diário e o Diário de Miguel Torga”; as “Tradições de Trás-os-Montes e Alto Douro no Diário Torguiano”; e “O Diário e a obra de Torga nas aulas de Português”.

«o estudo de Maria da Assunção Anes Morais (...) constitui apreciável contributo para o aprofundamento de um dos vectores mais importantes na obra de Miguel Torga (...). Percorrem-se atentamente as centenas de páginas da obra do escritor transmontano e, a partir da sistematização das oportunas e abundantes ocorrências, consideram-se com pertinência e muito cuidado os costumes, as crenças, as festas, as romarias, as composições orais tradicionais (canto das malhas, teatro popular, lendas), tudo quanto, nesse "reino maravilhoso" impressionou o saber e a sensibilidade do médico e escritor, mas, poder-se-á acrescentar, de um muito atento observador de vocação etnográfica, com curiosidade de antropólogo (...)» Prof. Doutor João David Pinto Correia, Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e do Centro de Tradições Populares Portuguesas

Maria da Assunção Anes Morais – Natural de Chaves, as suas raízes, bem profundas em terras transmontanas e barrosas, são razão suficiente para justificar o seu amor à terra e ao que de mais genuíno se pode encontrar nessas paragens.
Licenciou-se em Humanidades na Faculdade de Filosofia de Braga- Universidade Católica Portuguesa. Estagiou na Escola Secundária/3 Sá de Miranda, em Braga e tornou-se Professora de Português e de Latim.
A paixão pela língua portuguesa e pela literatura leva-a a matricular-se no Mestrado em Ensino da Língua e Literatura Portuguesas, na Universidade de Trás-os- Montes e Alto Douro, que concluiu com uma dissertação no estudo da Obra de Miguel Torga e das tradições da sua região.